- O Globo
Na hiperinflação, em 1989, professores da PUC- Rio lançaram o livro “A Ordem do Progresso”, sobre a política econômica nos 100 anos da República. Agora, passados 25 anos, eles lançam uma segunda versão ampliada com o que aconteceu depois, e com um capítulo sobre a economia do Brasil no Império. O país teve um evidente salto com a estabilização da economia. Algumas sombras voltaram.
O primeiro livro terminava no auge da angústia brasileira com os índices de preços disparados e na véspera do que viria a ser a pior tormenta: o Plano Collor. Portanto, a nova versão, lançado pela editora Campus Elsevier, fala do Plano Collor, do Plano Real, e do grande teste da transição política, em 2002, em que o PT manteve as bases da política econômica do governo do PSDB.
No capítulo sobre a mudança no PT, escrito por Rogério Werneck, o subtítulo diz muito: “tensões da metamorfose.” Ele lembra que nas eleições municipais de 2000, os dirigentes partidários, como José Dirceu, e economistas do partido aderiram à proposta da CNBB de fazer um plebiscito da dívida interna e externa. Apenas dois anos depois, tudo mudou e a “Carta aos Brasileiros” falava em “preservar o superávit primário o quanto for necessário para impedir que a dívida interna aumente e destrua a confiança do governo de honrar seus compromissos”. A história é conhecida, mas revisitá-la agora impressiona pela rapidez da mudança.
O primeiro e o segundo livros foram organizados por Marcelo de Paiva Abreu. Eu entrevistei Abreu e Werneck no meu programa da Globonews, e eles dizem que nos últimos anos do governo Lula começou uma nova mudança na política econômica que se aprofundou nos anos mais recentes. Eles não chegam a analisar o governo Dilma. Na parte final do livro, apenas pincelam que ela aprofundou a proposta do segundo mandato de Lula, de políticas de desenvolvimentismo e afrouxamento fiscal.
Rogério Werneck acha que nenhum dos governos analisados nessa atualização do livro equacionou a questão fiscal, tanto que a carga tributária aumentou nos governos Fernando Henrique, Lula e Dilma. Mas acrescenta que houve uma clara piora no último período presidencial.
Marcelo Abreu acha que o passeio pela economia do Império e pela política econômica da República mostra que o Brasil nunca se abriu completamente ao comércio internacional e continua apostando no projeto autárquico. O embate entre as duas correntes de pensamento — a que é a favor da integração com o mundo e a que prefere elevar as barreiras ao comércio e subsidiar a indústria — é recorrente na história do país, com predomínio da visão do país fechado.
No Império, o Brasil teve baixo crescimento e, na visão de Marcelo, em grande parte pela relutância do país de encerrar a escravidão e iniciar o regime do trabalho assalariado. Ainda que seja muito difícil falar em política econômica do Império, o livro traz um bom resumo do que foi a economia nos dois reinados, mesmo com a falta de dados. Eles projetam o que teria sido o ritmo de avanço do PIB: “Uma taxa de crescimento de 0,3% ou até 0,4% ao ano para o período imperial parece bem razoável”, diz o texto.
Com um novo capítulo sobre o período Jânio-Jango, escrito por Mário Mesquita, o texto inicial sobre o Império e os três capítulos finais, o livro é uma obra indispensável para quem quer entender a história econômica do Brasil independente. Mas o final continua em suspenso. Se a primeira versão dizia que o país estava vivendo em 1989 a pior crise do Brasil independente, agora a obra avisa que a atual conjuntura exige novos ajustes e a reafirmação das bases da estabilização.
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