• Para analistas, Dilma tem que melhorar articulação com Congresso e não medir forças
Carolina Benevides – O Globo
Derrotada na Câmara dois dias depois da eleição, Dilma não tem tido, segundo cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO, a esperada lua de mel que os presidentes recém-eleitos costumam encontrar.
De lá para cá, a petista já viu o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira, que foi candidato a vice na chapa de Aécio Neves, fazer críticas contundentes; o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), afirmar que ela será derrotada também na Casa e ainda o peemedebista Eduardo Cunha deixar claro que não concorda com a proposta do vice Michel Temer de revezamento entre PT e PMDB na presidência da Câmara.
- O Planalto esnobou o Congresso nos últimos quatro anos e agora levou de novo o troco, que já havia sido dado quando o Código Florestal foi votado. O PMDB é parceiro, mas quer mais - diz David Fleischer, da UnB, completando: - Se o Planalto não tiver aprendido com a derrota de anteontem, vai perder mais. Dilma não tem o jogo de cintura que Lula tinha, mas depois de reeleita tem acenado com palavras. No entanto, o Congresso quer ação. Com o Eduardo Cunha na presidência da Câmara, por exemplo, que provavelmente tentará isolar o PT, Dilma terá que articular muito bem.
Professor da UFF, Eurico Figueiredo concorda que a Câmara mandou um recado à presidente, mas lembra que ela já havia recuado quando, após o discurso da vitória, declarou não ter preferência por plebiscito ou referendo para a reforma política, desde que a participação popular fosse mantida:
- Recuou, mas não foi suficiente. É preciso que Dilma tenha sabedoria política. Mas não pode esquecer que a correlação de forças no Congresso muda a partir de 1º de janeiro. Não é hora de ninguém medir força. Em relação ao Eduardo Cunha, ela pode postergar por dois meses e esperar as mudanças que virão.
Para Figueiredo, a situação política é "complexa" e engloba desde o anúncio que Dilma fará sobre quem assumirá a Fazenda, passando pelos nomes que vão compor o Ministério no segundo mandato, até a nova composição do Congresso, o papel da oposição, que saiu fortalecida das urnas, e a pressão que a sociedade vai exercer:
- O voto não foi um cheque em branco. E pelo que vejo o Congresso e o Executivo ainda não assimilaram o recado das ruas. Claro que é bom ter um Legislativo independente, mas é preciso saber se a independência não é só para obter privilégios, barganhar.
Segundo ele, reeleita, Dilma tem a chance de se firmar como quem atende às demandas da sociedade:
- Ela prometeu um novo governo. Se ouvir os empresários, as entidades que representam a classe média, a imprensa, que faz críticas pertinentes, negociar os melhores nomes para o Ministério e souber avaliar o Congresso, pode sair desse impasse.
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