• Em comunicado, a autoridade monetária cita riscos para a inflação; Selic estava estacionada em 11% desde abril
Célia Froufe - O Estado de S. Paulo
Três dias após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, em decisão inesperada, o Banco Central decidiu nesta quarta-feira, 29, elevar a taxa básica de juros da economia (Selic) para 11,25% ao ano. Desde abril, a Selic estava estacionada em 11% ao ano.
A ação do BC, duramente criticado pelo mercado por deixar o índice oficial de inflação (IPCA) grudado no teto da meta de 6,5% por muito tempo, tenta deixar claro, de forma mais contundente, que não despreza as pressões inflacionárias e que buscará trazer o IPCA ao centro da meta de 4,5% no novo mandato de Dilma Rousseff. O IPCA acumulado em 12 meses está acima do teto da meta, em 6,75%.
Apesar do marasmo da economia, pesou na decisão a necessidade de carimbar que o único mandato do BC, o controle dos preços, está mantido. Principalmente, depois que o BC passou a admitir que a contenção dos gastos públicos, via política fiscal, não tem contribuído para aliviar a política de juros. Além disso, a instituição passa por um momento de recuperação de sua imagem, após desgaste sofrido durante a campanha eleitoral.
O papel do BC, sua autonomia e independência, estiveram no centro da campanha eleitoral. A presidente Dilma atacou, em seus programas, propostas feitas pelos candidatos da oposição. Insinuava, inclusive, que um BC fora do controle do Palácio do Planalto seria entregar o poder aos banqueiros sobre juros, empregos, preços e salários. E que isso tiraria comida da mesa dos brasileiros.
Nas palavras do BC, expressas no comunicado que se seguiu à decisão, o Comitê de Política Monetária (Copom) considerou "oportuno" ajustar as condições monetárias para garantir, a um custo menor, um cenário mais "benigno" para a inflação em 2015 e 2016. Nos cálculos apresentados pelo BC em setembro, a chance de estouro da meta este ano estava em 37% - para 2015, o índice chegava a 31%. As duas hipóteses consideravam o chamado cenário de referência do BC.
A decisão surpreendente, no entanto, não foi unânime. Cinco membros do comitê, inclusive o presidente Alexandre Tombini, votaram a favor da alta dos juros. Três outros diretores defenderam a estabilidade da taxa. Para explicar a decisão, o Copom apresentou o comunicado mais longo desde agosto de 2011, quando o BC promoveu o chamado "cavalo de pau" na política monetária ao reduzir a Selic em meio ponto porcentual, para 12% ao ano.
Cálculos. Com a decisão, os economistas já vão refazer os cálculos para as projeções de vários indicadores e definir as apostas para a próxima reunião do Copom, marcada para o início de dezembro. Até porque havia unanimidade entre os analistas do mercado financeiro de que a taxa seria mantida. Pela última pesquisa Focus, essa alta para 11,25% ao ano era aguardada apenas para janeiro de 2015, primeiro mês do próximo mandato de Dilma.
Um fator que será fundamental para o BC nas próximas decisões de política monetária é o comportamento do dólar. Ainda mais depois que o Federal Reserve (Fed, o BC dos Estados Unidos) anunciou que não continuará com seu programa de compra de ativos. Embora amplamente esperada, essa decisão do Fed pressiona as moedas de países emergentes, como o real.
Além disso, a divulgação é vista como um prenúncio de que a alta dos juros por lá está mais próxima. O anúncio se deu antes do início da segunda parte da reunião do Copom e se encaixa no teor do alerta feito pela diretoria do BC no Relatório Trimestral de Inflação de setembro sobre a aversão ao risco que se instalou no mercado internacional.
Alterações. Do lado doméstico, a elevação da taxa nesta quarta-feira se deu em meio a indefinições sobre a permanência dos membros do Copom em seus cargos. Apesar de haver um convergência no mercado sobre a permanência de Tombini à frente do BC, aguarda-se a oficialização pela presidente Dilma. Os diretores tiveram que lidar com um fator externo na reunião, que são os rumores sobre os possíveis desligamentos de seus cargos. Muitos estão "incomodados" com essa situação de indefinição, apurou o `Broadcast'.
Há um consenso, no entanto, de que nenhum deles baterá o martelo sobre o rumo de suas carreiras antes da definição na alta cúpula da instituição. Antes disso, é aguardado o novo nome para o Ministério da Fazenda em substituição a Guido Mantega. O BC é subordinado à Pasta. Em casos de um possível descumprimento da meta de inflação, por exemplo - que pode ocorrer este ano -, o presidente do BC tem que dar satisfação pública ao ministro da Fazenda.
Veja a íntegra do comunicado:
"O Copom decidiu elevar a taxa Selic para 11,25% a.a., sem viés, por cinco votos a favor e três votos pela manutenção da taxa Selic em 11,00% a.a.
Para o Comitê, desde sua última reunião, entre outros fatores, a intensificação dos ajustes de preços relativos na economia tornou o balanço de riscos para a inflação menos favorável. À vista disso, o Comitê considerou oportuno ajustar as condições monetárias de modo a garantir, a um custo menor, a prevalência de um cenário mais benigno para a inflação em 2015 e 2016.
Votaram pela elevação da taxa Selic para 11,25% a.a. os seguintes membros do Comitê: Alexandre Antonio Tombini (Presidente), Aldo Luiz Mendes, Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo e Sidnei Corrêa Marques. Votaram pela manutenção da taxa Selic em 11,00% a.a. os seguintes membros do Comitê: Altamir Lopes, Luiz Awazu Pereira da Silva e Luiz Edson Feltrim."
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