- O Estado de S. Paulo
“O governo Lula era uma centopeia: dava um tiro no pé, mas tinha várias pernas para continuar caminhando. O governo da Dilma parece um saci: só tem uma, atira no pé e vai ao chão.”
Quem conta o conto é o senador Romero Jucá, do PMDB, a título de comparação entre os governos Luiz Inácio da Silva e Dilma Rousseff, especialmente no campo político. Na avaliação dele, a presidente comete vários equívocos.
O maior é achar que pode prescindir da colaboração de aliados experientes e se isolar com um pequeno grupo de conselheiros exclusivamente petistas que não ajudam a presidente a enxergar de maneira correta o panorama.
“Não pode dar certo um esquema de articulação política que começa já querendo alijar o partido do vice-presidente da República e que, além disso, vai presidir a Câmara e o Senado”, constata. Na avaliação dele, há “chance zero” de o PMDB não ganhar a eleição para as duas Casas no próximo dia 1.º de fevereiro.
E se o governo entrar firme em favor da candidatura de Arlindo Chinaglia, do PT, contra Eduardo Cunha, do PMDB, “vai ser pior”, acredita. A saída ideal, na opinião do senador, seria uma composição, mas não são esses os sinais emitidos do Palácio nem é esse o clima reinante no PMDB. Ali o ambiente é de beligerância. De onde parece ter chegado a hora de discutir a sério a relação.
A começar pela mudança da presidência do partido, ocupada por Michel Temer desde antes da primeira eleição de Lula. Passada a eleição no Congresso, resolvidas mudanças no ministério (Henrique Alves, atual presidente da Câmara, irá para o Turismo) em fevereiro, o PMDB vai começar a elaborar um novo plano de voo.
Em duas vertentes: elegendo um novo presidente cujo compromisso com o governo não seja o mesmo inerente ao posto do vice Michel Temer e, a partir daí, adquirir autonomia para um projeto futuro que, tudo indica, não inclui parceria com o PT. “Não podemos ficar a reboque do desempenho do governo.” Jucá pode ser esse nome (obviamente ele faz de conta que não é), mas pode ser também Eunício Oliveira. Pelo jeito da conversa o essencial é que a pessoa nutra, digamos, uma “zanga branca” em relação ao Planalto.
O senador Romero Jucá se notabilizou no Congresso pela longa e ecumênica carreira de líder de governo. Qualquer um. Ocupando oficial ou informalmente a função, passou por Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio da Silva e Dilma Rousseff. Na última eleição votou em Aécio Neves.
Apagadas as urnas, Jucá suou literalmente a camisa para fazer aprovar aquela polêmica (para dizer o mínimo) mudança na regra do superávit primário. Votação quase posta a perder pelo Palácio do Planalto com a edição de um decreto liberando verbas de emendas orçamentárias para os parlamentares, mas condicionando o dinheiro à aprovação da questão do superávit.
Caso típico do que o senador exemplifica como o tiro na perna do saci.
Aos navegantes. A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, dá o aviso geral à Esplanada e cercanias: “Se pensam que vou entrar em atrito com partidos, movimentos sociais, entidades ou pessoas, ledo e ivo engano. Minha capacidade de adaptação é infinita”.
Ela diz isso a propósito dos tiroteios que enfrentou antes e logo após tomar posse no cargo. Sua receita é a seguinte: não aceitar provocação, silenciar quando for conveniente, responder o necessário, mostrar serviço, atuar politicamente e, sobretudo, não achar que o apoio da presidente é garantia de sustentação.
Indicada à revelia da direção de seu partido hoje mesmo Kátia Abreu terá um encontro com o presidente do Senado e com o relator do Orçamento da União – Renan Calheiros e Romero Jucá, ambos do PMDB – para dar a ideia de que trabalhem por reforços orçamentários aos ministérios que tanto desagradaram aos pemedebistas.
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