• Basto contradiz depoimento de policial que trabalhou para Youssef
Cleide Carvalho e Maria Lima – O Globo
SÃO PAULO e BRASÍLIA - Antônio Figueiredo Basto, advogado do doleiro Alberto Youssef, afirmou ontem que seu cliente "nunca entregou dinheiro" ao deputado Eduardo Cunha, do PMDB do Rio, e ao senador eleito Antonio Anastasia, do PSDB de Minas. Basto disse que apresentará petição à Justiça Federal do Paraná esclarecendo o fato. Segundo ele, o doleiro deverá depor sobre o assunto quando for convocado, o que ainda não aconteceu.
Anastasia e Cunha foram citados em depoimento pelo policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, que trabalhava para Youssef, preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, Careca fazia transporte de dinheiro para o doleiro e também dava cobertura para outros encarregados de distribuir propina aos beneficiados pelo esquema de desvios na Petrobras.
Lotado no Aeroporto do Galeão, no Rio, o policial teria distribuído, entre 2011 e 2012, um total de R$ 16,7 milhões a mando de Youssef. Segundo o depoimento, o policial federal afirmou que levou R$ 1 milhão para Anastasia. O dinheiro teria sido entregue em 2010 numa casa em Belo Horizonte a uma pessoa que não se identificou. Careca, no entanto, teria ouvido de Youssef que a remessa era destinada a Anastasia. Após os policiais apresentarem a ele uma foto do ex-governador, Careca o identificou: "A pessoa que aparece na fotografia é muito parecida com a que recebeu a mala enviada por Youssef, contendo dinheiro", disse.
Aécio se mobiliza
A advogada Tatiana Maia, que defende Careca, reclamou do "vazamento seletivo e deturpado de informações", que, segundo ela, "em nada contribuem às investigações".
Desde que foi veiculada a acusação contra o ex-governador mineiro, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), tem mobilizado pessoalmente todo o partido para provar que a citação foi indevida. Na semana passada, Aécio procurou o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que atuou na defesa do doleiro até a decisão pela delação premiada, e este intermediou com o advogado Antônio Figueiredo Basto a elaboração da petição à Justiça afirmando que Youssef não citou Anastasia em seu depoimento.
Em conversa com O GLOBO, Anastasia chamou a acusação do policial de "aberração e história da carochinha", e disse estar psicologicamente "no fundo do poço", deprimido com o ataque à sua honra. Além da acareação pedida com o policial, que ele diz nunca ter visto, Anastasia solicitou audiência com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandovski, e requereu toda a documentação do caso.
- É um golpe duro demais! Mas vou recuperar as forças para reagir a isso. Quem me conhece sabe como eu prezo a minha honra. Vamos provar que é uma armação, mas, até lá, o desgaste é muito grande. Não há nem podia haver a citação do meu nome. É uma coisa muito descabida, uma história da carochinha. Porque um governador da oposição receberia esse dinheiro de um esquema operado na Petrobras? - desabafou Anastasia.
Em viagem à Califórnia, Kakay conversou por telefone com Aécio e disse que, enquanto atuou no caso, nunca ouviu o nome de Anastasia. Segundo o advogado, Aécio perguntou se seria uma "armação", mas Kakay disse considerar que houve um erro:
- Eu tenho certeza de que houve um erro. Houve citação de muita gente fora do contexto. Se o Careca disse que ouviu o Youssef dizendo que mandou dinheiro para o Anastasia, e o Youssef diz que isso não é verdadeiro, morreu o assunto - respondeu Kakay.
Anastasia disse não temer a possibilidade de outra pessoa ter recebido o dinheiro citado pelo policial, como caixa dois para sua campanha:
- Não acredito. Minha campanha sempre foi muito rígida, não teria espaço para isso. Por que dariam dinheiro para um candidato do PSDB?
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