• Broncas da presidente nos juros altos, em 2012, deram pouco resultado além de avanço do Estado no crédito
- Folha de S. Paulo
Alguém se lembra de uma célebre campanha de Dilma 1, o "Pátria Sem Spread"? Sem ironia, alguém ainda se lembra da campanha da presidente para a redução dos juros?
Os juros do cartão de crédito chegaram em dezembro ao nível mais alto em 15 anos, dizia ontem a Anefac, a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Os juros do cheque especial seriam os maiores em 11 anos, na conta da Anefac. Na do Banco Central, a taxa média de juros do cheque já seria a maior em 15 anos, desde o annus horribilis de 1999.
E daí? As taxas de juros vêm subindo faz tempo e ainda vão subir mais, tudo isso é leite derramado. Mas faz lembrar de uma das campanhas do governo. Entre março e abril de 2012, Dilma Rousseff começou a passar carraspanas públicas nos bancos. Criticava os juros altos, bidu, e os "spreads" a diferença entre o custo do dinheiro para os bancos e o custo para os clientes, de fato uma aberração brasileira.
Passados dois anos e oito meses, nota-se que tal política funcionou se tanto de modo tópico, temporário e a um custo muito discutível, pelo menos. Praticamente não buliu com os juros da banca privada.
O clima ficou pesado entre a presidente e os bancos. Até então mais ou menos neutros ou passivos em relação a Dilma, o pessoal da banca passou a dizer cobras, lagartos e jacarés da presidente.
De imediato, seguindo a ordem do governo, os bancos públicos, Banco do Brasil e Caixa, passaram a baixar várias de suas taxas.
No início de abril de 2012, a taxa média do cheque especial na Caixa equivalia a uns 80% da taxa cobrada por Itaú e Bradesco, por exemplo. No final daquele ano, baixara a 50%. Agora, está em 69%, subindo. No caso do BB, suas taxas equivaliam a 96% das taxas desses bancões privados (ou seja, eram "taxas de mercado"). No final de 2012, baixaram a 62%. Agora, subiram a 87%.
É preciso lembrar que, em dezembro de 2012, também a Selic, a taxa básica da economia, "definida" pelo BC, baixara ao recorde de 7,25% (era de 9,75% em abril de 2012. Ora está em 11,75% e deve ir a pelo menos 12,5% neste ano).
O "spread" médio para a pessoa física cairia dos 29,6% em abril de 2012 para 25,6% no final daquele ano. Voltou a 31%.
Essa campanha de Dilma contribuiu para o aumento da fatia de mercado dos bancos públicos, que também contaram com a ajuda do financiamento barato e da garantia do governo (ao custo de mais dívida pública). A banca privada se retraía também devido ao medo de emprestar em meio à lerdeza econômica.
No final de 2011, a participação dos bancos públicos no total de novos empréstimos voltara a subir. Com as broncas de Dilma, acelerou violentamente. Em abril de 2011, os bancos públicos respondiam por 44% do aumento de empréstimos em 12 meses. Em abril de 2012, por 58%. Em abril de 2013, por 78%. Agora, anda em torno disso também.
Ou seja, houve uma estatização de parte do mercado de crédito bancada em grande parte por aumento de dívida pública (o dinheiro emprestado pelos bancos estatais veio daí, de dívida), combinada a uma baixa forçada de juros na banca estatal e pressão política do governo sobre os privados.
Não deu muito certo, como se percebe.
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