“No meu modo de ver, houve um retorno das ações sociais ao âmbito do chamado comportamento coletivo, o comportamento de multidão, estudado por Gustave LeBon [1841-1931] no século XIX. Essa modalidade de ação havia evoluído para os movimentos sociais após a Segunda Guerra e durante cerca de 50 anos foi o modo como as sociedades se manifestaram em relação a suas carências e reivindicações. A própria sociologia, mesmo sem pretendê-lo, contribuiu para que os movimentos sociais, ao explicá-los, fossem institucionalizados. Governos, partidos, igrejas incorporaram essas tensões e definiram-lhes caminhos. Estamos vendo isso aqui no Brasil: os movimentos sociais deram origem ao Partido dos Trabalhadores. No poder, o PT os capturou e instrumentalizou. Os movimentos sociais foram domesticados e esvaziados. É compreensível que aqui e em outras sociedades as tensões sociais explodam na forma de ações coletivas diretas, o chamado comportamento coletivo, imprevisível. Essas ações também serão capturadas e domesticadas, o que desencadeará novas modalidades de protesto e de reivindicação. É o que propriamente define a sociedade pós-moderna.”
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José de Souza Martins, sociólogo, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (USP).Entrevista no Valor Econômico, ‘O cotidiano no invisível’, S. Paulo, 16 de janeiro de 2015.
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