• Para Eunício, ação criou narrativa do empresário rico contra os pobres, no Ceará
Evandro Éboli e Maria Lima – O Globo
BRASÍLIA — No final de julho do ano passado, quando os administradores do complexo agropecuário Santa Mônica, em Goiás, foram informados pelo dono de uma loja de material de construção de Corumbá que o estoque de lona havia acabado, tiveram certeza que se concretizariam os rumores que corriam na região: a invasão nas terras do senador Eunício de Oliveira (PMDB-CE) era iminente.
No auge da campanha eleitoral pelo governo do Ceará, na qual o peemedebista aparecia então com larga vantagem sobre o petista Camilo Santana (PT-CE), apoiado pelo então governador Cid Gomes (PROS), a invasão do MST botou fogo na disputa. Desde então, ela é tratada pelo senador como um movimento orquestrado pelos irmãos Gomes para criar a narrativa do empresário muito rico contra o candidato dos pobres. As imagens da invasão foram usadas na campanha de Camilo, que acabou vitorioso.
Eunício garante que a fazenda é 100% produtiva, com manejo de gado de corte, de leite, produção de soja, milho, tomate e feijão dentro das mais modernas técnicas de produção, além de abrigar uma reserva florestal e uma reserva de fauna silvestre. A propriedade, que leva o nome da esposa de Eunício, é um recanto do senador. A alameda, que liga um grande portal ocre à sede da fazenda, é ladeada pelas casas dos funcionários — caseiros, cozinheira, vaqueiros, veterinário, gerente — e grandes viveiros de espécimes exóticos da fauna silvestre.
Há também, segundo ele, 230 alqueires de mata nativa, com minas, córregos e composta por árvores nobres: angico, aroeira, jatobá, landi, pequi e outras. A fazenda ainda é fiel depositária do Ibama, guardando pássaros apreendidos com traficantes. O grande orgulho do senador são exemplares da arara azul.
A arquitetura das construções — textura, tijolinhos na fachada e granito — é padronizada. A linha é repetida na capela ao lado da casa principal e nos currais. Até o passeio que liga ao barracão de ordenha é de granito.
O senador e ruralistas da região apontam a Santa Mônica como uma fazenda modelo, com sistemas modernos de irrigação das plantações de soja e equipamento automatizado para ordenha e resfriamento do leite. Segundo Eunício, são produzidas cerca de 130 mil sacas de soja por safra e até 1.500 litros de leite por dia.
— A fazenda é 100% produtiva. Se querem comprar terras para reforma agrária, por que tem que ser as do Eunício? Dizem que tem aqui três mil pessoas? Nunca! No final de semana pode chegar a umas 1000. Mas durante a semana não passam de 500. Os funcionários estão muito assustados porque há registro de armas, drogas e bebida no local. Já houve até um assassinato. Um dos invasores matou o outro com um golpe de machado — diz o administrador Ricardo Lopes.
Com fotos que mostram cercas destruídas e carcaças de gado abandonadas no pasto, Lopes e o veterinário Bruno Ribeiro afirmam que os sem-terra, além de matar os animais, estão roubando canos da rede hídrica da fazenda para canalizar água de uma nascente na área de preservação ambiental, que já estaria seca com a ação predatória.
Na quinta-feira, funcionários faziam obras de reparo em uma das casas de vaqueiro próxima ao assentamento que, segundo os administradores, foi saqueada pelos invasores: levaram portas, pia, vasos de banheiro e a caixa d’água.
Recursos limitados
O prefeito de Corumbá de Goiás, Célio Fleury (PSDB), afirmou que ficou surpreso com a invasão do MST e que não é comum ocorrer esse tipo de ação na região. Ele se reuniu com os líderes dos sem-terra, que reivindicam apoio nas áreas de Educação e Saúde. O movimento pediu uma sala de aula e um posto de saúde no acampamento.
— Como gestor público, a intenção é atender toda comunidade, da zona rural à urbana. Mas Corumbá de Goiás recebe recurso federal referente a 10.360 habitantes. Não temos condições de atender um número tão grande de pessoas em tão curto período. Esse crescimento repentino da população faz as despesas da prefeitura aumentarem, podendo causar prejuízos aos moradores daqui. Quanto a instalar unidade escolar e de Saúde, não tem como aplicar recurso do município em área privada — afirmou o prefeito.
Apesar de ter recebido o grupo sem-terra, o político elogiou Eunício Oliveira:
— O conheço como político, empresário e produtor rural. É um empreendedor que oferece muitos empregos com carteira assinada, gera receita agrícola considerável e recolhe regularmente os impostos incidentes sobre suas atividades.
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