Os danos causados pela pilhagem da Petrobrás já seriam enormes, se ficassem restritos à maior empresa do Brasil, mas seus efeitos podem ir muito além. A dimensão econômica do estrago ainda está sendo calculada. Enquanto avançam as investigações sobre corruptos e corruptores, desvios de dinheiro, doações suspeitas e bandalheiras administrativas, o governo tenta avaliar as consequências desses desmandos para o mercado financeiro, para os programas de infraestrutura e para companhias afetadas indiretamente.
Os saqueadores parecem ter ignorado, ou simplesmente menosprezado, a amplitude dos negócios da maior estatal brasileira e os efeitos colaterais de qualquer ação capaz de prejudicar sua atividade e sua saúde financeira.
O rebaixamento das notas de crédito de várias construtoras investigadas na Operação Lava Jato poderá resultar em problemas para os bancos credores dessas companhias. Se isso ocorrer, as condições de financiamento para outras empresas poderão piorar. Se isso ocorrer, companhias poderão ser afetadas mesmo sem ter participado de qualquer das ações investigadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público.
O Ministério da Fazenda e o Banco Central (BC), informou o Estado, estão acompanhando os desdobramentos do caso no setor financeiro e examinando medidas para evitar a contaminação de empresas sem envolvimento nos fatos investigados na Operação Lava Jato. As construtoras têm dívidas próximas de R$ 130 bilhões. Se essas empresas tiverem dificuldades de pagamento, os bancos poderão retrair-se e os problemas tenderão a espalhar-se. Autoridades do Ministério da Fazenda, segundo o Estado, tratam o assunto discretamente, mas com claras demonstrações de preocupação.
Empreiteiras investigadas no escândalo da Petrobrás participam de importantes projetos de infraestrutura, como a construção da Usina de Belo Monte, já atrasada. Se as condições financeiras dessas empresas se agravarem, grandes obras poderão ser prejudicadas. Isso afetará duplamente a retomada do crescimento econômico.
A curto prazo, a interrupção ou retardamento das construções afetará o nível geral de atividade. Em prazo mais longo, o atraso dos investimentos privará o País de condições necessárias à ampliação da capacidade produtiva, com efeitos nocivos tanto para o ritmo do crescimento quanto para a criação de empregos. Além disso, as deficiências da infraestrutura são amplamente reconhecidas como uma das principais desvantagens do Brasil, quando se trata de competir no mercado internacional. O efeito negativo dessa desvantagem tende a crescer com o tempo.
Também o Palácio do Planalto está envolvido nas operações de conserto e de limitação de danos. A presidente Dilma Rousseff, segundo informou a Folha de S.Paulo, reuniu-se com os presidentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Banco do Brasil para tentar destravar empréstimos à Sete Brasil, maior fornecedora de sondas para exploração do pré-sal.
Neste caso, a intenção é ajudar uma empresa constituída pela Petrobrás, bancos e fundos de pensão de estatais para atender a um objetivo controvertido, a criação de fornecedores nacionais para o projeto do pré-sal. Um ex-diretor dessa fornecedora e ex-funcionário da Petrobrás, Pedro Barusco, declarou ter recebido propina quando trabalhava na estatal.
Os efeitos colaterais do saque da Petrobrás podem complicar sensivelmente a tarefa do novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e de seus colegas da equipe econômica. Eles já teriam muito trabalho se o desafio imediato incluísse a arrumação das contas públicas, a redução da inflação e a recuperação do balanço de pagamentos. O sucesso dessa missão depende em boa parte da reconquista da confiança dos investidores na política econômica e nas perspectivas da economia brasileira. A essa agenda é preciso acrescentar, como tarefa urgente, o controle dos danos econômicos e financeiros produzidos pelo assalto à maior empresa brasileira. Ninguém sabe, ainda, o tamanho dessa tarefa.
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