• Quando a política econômica produz distorções, como vinha produzindo, uma forma de ajuste se dá pelos preços. Desse ponto de vista, a inflação é um jeito pelo qual a economia distribui automaticamente a conta dos desajustes sobre o consumidor
- O Estado de S. Paulo
A inflação de fevereiro veio alta demais. Foi de 1,22%, quase no mesmo nível de janeiro (de 1,24%), embora o mês de fevereiro fosse mais curto. Nenhuma surpresa. Trata-se de um efeito esperado.
Medido por período de 12 meses, o salto foi de 7,7%. Ou seja, a inflação está na antessala dos 8,0% ao ano. Dessa vez, as principais pressões não vieram da área de alimentos, mas dos transportes (alta da gasolina de 8,42%) e da educação (alta dos cursos diversos de 7,14%). São reajustes sazonais, que deverão perder força nas próximas semanas.
O impacto da energia elétrica não foi desprezível (alta de 3,14% no mês e 30,27% em 12 meses) e deverá continuar a ser descarregado sobre a cesta de consumo por mais alguns meses.
Por aí se vê que um dos principais fatores de inflação é, como já se sabia, o realinhamento dos preços administrados (2,37% em fevereiro), que permaneceram represados em 2014 para ajudar a presidente Dilma a vencer as eleições. Esses reajustes selvagens vão continuar.
Há um terceiro fator atuando com vigor para puxar a inflação para cima. Trata-se do câmbio. A alta do dólar em reais (de 5,3% em fevereiro e 6,8% em março, até o fechamento nesta sexta-feira) vai encarecendo os preços dos produtos importados que, assim, se prestam a se transformar em correia transportadora de aumento de preços ao longo das cadeias de produção e distribuição.
A inflação vai corroendo o poder aquisitivo e, portanto, atua como instrumento de contenção da demanda. Além disso, provoca dois movimentos opostos. Tanto leva o consumidor a uma atitude mais conservadora na administração de seu próprio orçamento como, também, o leva a acirrar a briga pelo bolo nacional (conflito distributivo). Esse último fator tende a resvalar para atitudes de defesa que podem produzir efeitos de natureza política. Manifestações de protesto e greves são desse tipo.
O momento é de estagflação, um animal teórico que mistura estagnação do setor produtivo com inflação elevada. É, também, agente de incertezas. A queda da produção e do consumo derruba a arrecadação. A falta de determinação política (principalmente do Congresso) para dar respaldo ao ajuste das contas públicas pode tirar o chão do principal fator capaz de segurar a inflação. É uma situação que sobrecarrega o Banco Central e sua política monetária (política de juros). O arrocho no volume de moeda e de crédito puxou os juros básicos (Selic) a 12,75% ao ano, um dos patamares mais altos do mundo, quando o principal risco das economias maduras é o oposto, é o de deflação (queda geral de preços).
Embora a curto prazo a inflação tenda ao nível dos 8,0% em 12 meses, como acima observado, a tendência é a de que, a partir do segundo semestre, perca força. O Banco Central sustenta que, ao longo de 2016, embicará para a meta de 4,5% ao ano. Por enquanto, trata-se mais de uma aposta do que de uma certeza.
Quando a política econômica produz distorções, como vinha produzindo, uma forma de ajuste se dá pelos preços. Desse ponto de vista, a inflação é um jeito pelo qual a economia distribui automaticamente a conta dos desajustes sobre o consumidor.
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