• Cunha e Renan, respectivamente presidentes da Câmara e do Senado, foram citados em depoimentos de delatores
• Peemedebistas negam; senador é apontado como parte do 'núcleo político' de quadrilha formada para desvios
Aguirre Talento, Andreia Sadi, Catia Seabra, Dimmi Amora, Gabriel Mascarenhas, Márcio Falcão, Rubens Valente e Severino Motta – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - A cúpula peemedebista do Congresso é agora alvo de investigação no Supremo Tribunal Federal por suspeita de envolvimento no esquema de desvios na Petrobras.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi citado como integrante do "núcleo político" de uma quadrilha formada para desviar recursos da estatal; o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi acusado pelo doleiro Alberto Youssef de receber propina por um contrato com a petroleira.
Renan e Cunha negam quaisquer irregularidades.
Em um dos inquéritos abertos, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sugeriu que uma quadrilha foi formada para os desvios, dividida em quatro núcleos: político, econômico, administrativo e financeiro.
Janot escreveu que as apurações conduziram a indícios de que, no mínimo entre os anos de 2004 e 2012, as diretorias Petrobras estavam divididas entre partidos políticos, que eram responsáveis pela indicação e manutenção de seus respectivos diretores.
"Tratando-se de um processo sistêmico de distribuição de recursos ilícitos a agentes políticos, concebido e executado de forma organizada, permanente e estável, ao longo de significativo período de tempo, é inevitável subsumir esses fatos no crime de quadrilha", escreveu.
No inquérito, além de Renan e Ciro Nogueira (PP-PI) estão citados ao menos outras 35 pessoas, dentre as quais o ex-ministro do Turismo Mario Negromonte, os senadores Romero Jucá (PMDB-RR) e Valdir Raupp (PMDB-RO) e o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto.
Segundo o Ministério Público, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa disse que Renan, Jucá, Raupp e o ex-ministro de Minas e Energia e hoje senador Edison Lobão deram apoio para que ele ficasse no cargo em 2005 e 2006, quando estava doente, esperando em troca que parte dos recursos do esquema fossem canalizados para o PMDB.
Costa relatou que o deputado federal Aníbal Gomes (PMDB-CE) era o interlocutor de Renan com o esquema.
O doleiro Youssef vinculou Cunha ao recebimento de propinas pagas pelo executivo Julio Camargo por contratos fechados na diretoria internacional da Petrobras para fornecimento de navios-sondas à estatal.
Segundo o depoimento, Youssef afirmou que os pagamentos de Camargo a Cunha eram feitos por meio do lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, que "representava" Cunha e "o PMDB".
O dinheiro, diz o doleiro, era pago pela firma que venceu os contratos, a Samsung.
Janot diz que não há como saber ainda se Cunha recebeu dinheiro desviado, e menciona o recebimento legal de doações de empresas envolvidas no esquema.
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