• Escolha de vice para articulação política é considerada última cartada de Dilma
• Aliados da presidente apostam que Renan Calheiros e Eduardo Cunha continuarão jogando contra petista
Ranier Bragon, Valdo Cruz – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Classificada por assessores como a última cartada da presidente Dilma Rousseff, a transferência da responsabilidade pela articulação política do governo para o vice-presidente Michel Temer acirrou a disputa interna de poder no PMDB, partido com comando historicamente dividido por caciques regionais.
Presidente da legenda, mas com pouca ascendência sobre esses grupos, Temer vê agora a chance de recuperar o protagonismo que vinha perdendo lentamente para os presidentes do Senado, Renan Calheiros (AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (RJ).
Segundo um assessor presidencial, Dilma ficou sem saída quando o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, recusou convite para assumir a Secretaria de Relações Institucionais, e foi obrigada a entregar a Michel Temer o comando político do governo.
Um interlocutor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que Dilma "colocou todas as suas fichas" numa jogada só e deu sua "última cartada", abrindo mão de parte de seu poder para fortalecer Temer e tentar reduzir o dos dois peemedebistas que comandam o Congresso.
Em torno desses três políticos orbitam deputados, senadores, ministros, governadores e outros políticos com interesses diversos que ameaçam a tentativa de Dilma de reerguer a sua base de apoio.
As dificuldades maiores estão na Câmara dos Deputados, presidida desde fevereiro por Eduardo Cunha e que impôs uma sucessão de derrotas ao governo Dilma.
Eleito com um discurso crítico e de independência em relação ao Executivo, Cunha não dá sinais de que irá mudar de posição por causa da indicação de Michel Temer.
Aliados a Eduardo Cunha estão o prefeito do Rio, Eduardo Paes, o governador do Estado, Luiz Fernando Pezão, o ex-governador Sérgio Cabral, o futuro ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (RN), e a maior parte da bancada de deputados da sigla.
Sob sua bênção, o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ) conseguiu se eleger líder da bancada e é cotado para disputar a sucessão de Pezão. Esse grupo também almeja nos bastidores lançar um nome à Presidência da República na eleição de 2018, cenário que se nublaria em caso de sucesso de Temer na articulação política do governo.
O vice-presidente conta com aliados como o ministro Eliseu Padilha, Henrique Alves, que transita entre o seu grupo e o de Cunha, e o senador Jader Barbalho (PA), que possui grande capacidade de articulação interna e já mostrou que vai estar na linha de frente em defesa de Temer.
Já Renan tem se mostrado insatisfeito com a participação que seu grupo tem na Esplanada, o que o leva a adotar um discurso crítico contra o governo. Ele é padrinho político do ministro do Turismo, Vinicius Lages, que em breve perderá o posto para Alves.
Têm relação estreita com Renan os senadores Romero Jucá (RR) e Valdir Raupp (RO), que assumirá a presidência do PMDB nesta semana, assim que Temer se licenciar.
Trégua
Segundo interlocutores de Dilma e Temer, a expectativa é que Renan e Cunha façam um recuo e deem uma trégua ao governo. Mas eles vão continuar operando nos bastidores contra a petista, avaliam.
Segundo aliados do vice-presidente, tudo vai depender de Dilma. Ela terá de cumprir a promessa de dar a Temer todos os instrumentos para fazer a articulação política --principalmente a distribuição de cargos do segundo escalão-- e pôr fim à crise.
Caso contrário, dizem, a presidente teria de recomeçar tudo do zero para tentar chegar ao final do mandato, em 2018, com um patamar mínimo de aprovação popular.
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