- Folha de S. Paulo
Os protestos de hoje irão superar os de 15 de março? É difícil dizer. Não me surpreenderia nem se eles fossem maiores e mais disseminados, numa indicação de que as pessoas ainda não manifestaram toda a sua indignação com o brusco divórcio entre as promessas eleitorais e a realidade, nem se ficassem mais acanhados, num tradicional caso de regressão à média.
O fato é que não vivemos um momento revolucionário, em que as ruas tomarão o lugar do governo e o povo exercerá o poder diretamente. Uma hora a disposição das pessoas de ir para a avenida vai arrefecer, a pressão sobre os políticos, diminuir, e tudo voltará a ser, se não exatamente igual a antes, também não muito diferente. Já vimos esse filme em junho de 2013. Seria injusto dizer que a resultante daquele movimento foi nula, mas parece claro que ela não redefiniu os rumos do país.
O saldo ponderável das revoltas não foi dos mais animadores. Os aumentos de ônibus foram momentaneamente revertidos em várias cidades, o que acabou contribuindo para a ficção tarifária que hoje cobra seu preço. Houve, é verdade, algum impacto positivo sobre o Congresso, que aprovou o fim do voto secreto nas cassações de parlamentares, e não impediu o MP de conduzir investigações, como ameaçava fazer.
Menos tangível, mas talvez mais importante é o fato de que a população descobriu ali que, se for capaz de coordenar expectativas, pode agir como ator político influente, ainda que com aparições apenas bissextas. A dificuldade está em como transcender à agenda vazia da simples frustração e dar materialidade aos desejos frequentemente contraditórios de milhões de brasileiros. Grandes consensos são raros e, quando existem, tendem a ser, ao menos nas democracias, rapidamente implementados pelos políticos, sem necessidade de muita pressão popular.
Daí que não vejo um futuro muito brilhante para esses movimentos.
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