• Temas de fácil aderência popular, como a diminuição da maioridade penal, elevam o protagonismo da Casa
Mauro Paulino (Diretor-Geral do Datafolha) Alessandro Janoni (diretor de pesquisas do Datafolha)
O conjunto de resultados do Datafolha de hoje compõe um retrato em alta definição do momento político do país. A baixa popularidade da presidente, ancorada às incertezas econômicas e aos desdobramentos da Operação Lava Jato, retroalimenta-se na crise com o Congresso Nacional, que, por sua vez, recupera algum prestígio no imaginário da população.
A reprovação ao Legislativo caiu mais do que a do Executivo, principalmente entre mais ricos e escolarizados, perfil preponderante nas manifestações de rua. Temas de fácil aderência popular, como a diminuição da maioridade penal, elevam o protagonismo da Casa que, por outro lado, enfrenta o governo em questões que lhe são caras, como o ajuste fiscal e a lei da terceirização.
Uma espécie de antecipação da síndrome do pato manco --termo usado pelos americanos para presidentes impopulares em final de mandato e sem apoio no Congresso-- apodera-se do governo Dilma logo após sua reeleição.
Em ambiente tão hostil, o índice dos que defendem a abertura do processo de impeachment da presidente não chega a ser surpresa. Uma análise qualitativa do dado revela de onde vem a maior parte dos que querem a saída da petista e o quanto a população desconhece a consequência imediata do impedimento.
Dentre os que reprovam Dilma, 79% apoiam a abertura do processo de impeachment. Destes, 61% pertencem ao grupo dos "refratários" à presidente --não votaram na petista no segundo turno e reprovam agora sua administração. Outros 18% provêm dos que elegeram Dilma, mas que agora estão "frustrados" com sua gestão, especialmente assombrados pelo fantasma do desemprego.
Essa alta correlação entre insatisfação com o governo e o posicionamento pró-impeachment sustenta a opinião dessa parcela que, revoltada e insegura quanto ao futuro, dispensa provas de envolvimento, mesmo que indireto, da presidente nos casos de corrupção na Petrobras.
Também é característica do "Fora Dilma" a baixa taxa de conhecimento sobre o que acontece em caso de impedimento da presidente. No total da amostra, são apenas 12% os brasileiros que defendem a abertura do processo, sabem que o vice é quem assumiria e identificam corretamente Michel Temer (PMDB) como o virtual ocupante do cargo. A maioria, porém não sabe que o vice assume em caso de impedimento ou, quando sabe, desconhece Temer.
Mas o apoio majoritário dos brasileiros aos protestos contra o governo legitima ainda mais, junto à opinião pública, os eventos que ocorrem hoje, remetendo para segundo plano contrastes de perfil e níveis de informação entre população no geral e os manifestantes. A valorização da TV aberta como principal fonte do noticiário político pelos entrevistados dá pistas do efeito que as imagens das ruas têm sobre o eleitorado.
E não é apenas o futuro de Dilma e o do PT que estão em jogo. Cada vez mais, menos brasileiros citam Lula como o melhor presidente da história do Brasil.
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