Foi tudo um grande mal-entendido! O Partido dos Trabalhadores (PT) jamais aceitou propina das empreiteiras contratadas pela Petrobrás, garante o tesoureiro João Vaccari Neto. Aliás, as doações feitas aos partidos não saíram de sobrepreço, mas da honesta margem de lucro das empresas, esclarece o ex-diretor Paulo Roberto Costa. A Petrobrás até "limpou o que tinha que limpar" ao afastar "aqueles que tinha que tirar lá de dentro e que se aproveitaram de suas posições para enriquecer seus próprios bolsos", assegura a presidente Dilma Rousseff. Se tudo está, assim, devidamente explicado, por que se fala em escândalo da Petrobrás?
O PT comemorou os primeiros 100 dias do segundo mandato de Dilma demonstrando que considera os brasileiros um bando de idiotas disposto a continuar se deixando enganar pela mendacidade e pela desfaçatez. O PT faz o possível e o impossível para ignorar que seu governo é incompetente e foi jogado no fundo do poço do descrédito popular. E quer que todos os brasileiros também acreditem na patranha.
O depoimento do tesoureiro do PT na CPI da Petrobrás foi um espetáculo deprimente ilustrado pelo simbolismo dos roedores soltos no carpete verde, iniciativa de um funcionário da Câmara que ajudou a escancarar a miséria moral em que o populismo patrimonialista de Lula & Cia. está afundando o Brasil. Cuidadosamente treinado para evitar deslizes, Vaccari limitou-se a "negar tudo", mesmo tendo que expor-se ao ridículo de afirmar que ignorava o motivo pelo qual compareceu ao escritório do doleiro Alberto Youssef para uma reunião que, alegou, não se realizou. Ao final, os petistas davam claras demonstrações de alívio, resumidas nas palavras do senador Delcídio Amaral (PT-MS): "Ele estava bem orientado, foi econômico nas palavras e se saiu bem".
O comportamento dos petistas durante o depoimento de Vaccari, esforçando-se para demonstrar o óbvio - que todos os principais partidos políticos receberam doações de empreiteiras -, levou o senador Aécio Neves a comentar: "O PT passou boa parte de sua existência querendo provar que era diferente dos outros. Hoje, faz um esforço enorme para se mostrar igual aos outros".
Provavelmente não por coincidência, no mesmo dia a defesa de Paulo Roberto Costa apresentou à Justiça uma retificação da delação premiada do ex-diretor da Petrobrás, para esclarecer que os repasses feitos aos partidos pelas empreiteiras não saíam do superfaturamento dos contratos, mas da "margem de lucro". Em depoimento prestado em setembro à Justiça, Costa revelara que as empreiteiras "fixavam em suas propostas uma margem de sobrepreço de cerca de 3% em média, a fim de gerarem um excedente de recursos a serem repassados aos políticos". A retificação esclarece que os repasses eram "retirados da margem das empresas" e, por essa razão, "não se pode dizer que houve sobrepreço". É exatamente essa a versão sustentada na Justiça pelas próprias empreiteiras, com as quais o governo, por intermédio da CGU, está tentando fazer acordos de leniência com o alegado objetivo de impedir uma onda de desemprego e a descontinuidade da execução de obras de infraestrutura. Sova-se a massa da pizza.
A cereja do bolo da tapeação petista servido na comemoração dos 100 dias foi o emocionado pronunciamento de Dilma Rousseff sobre a Petrobrás, na solenidade de entrega de 500 unidades do Minha Casa, Minha Vida, no município fluminense de Duque de Caxias, onde está instalada a maior refinaria da petroleira. O governo petista tenta passar para o País a versão de que o alvo de denúncias e críticas não é a corrupção que se instalou na Petrobrás, mas a própria estatal, que interesses impatrióticos estão ávidos por privatizar. Como se o lulopetismo já não tivesse privatizado o próprio governo, há 12 anos colocado a serviço de seu projeto de poder.
"A Petrobrás está de pé", proclamou Dilma com orgulho. "A Petrobrás limpou o que tinha de limpar. (...) É uma empresa que vai nos dar muito orgulho, mais do que ela nos deu até hoje." Dirigindo-se a sindicalistas da estatal, concluiu: "Vocês podem ter certeza que eu concordo que defender a Petrobrás é defender o Brasil".
Enquanto isso, a Operação Lava Jato continuava prendendo políticos, entre eles o notório ex-petista André Vargas e outros dois ex-deputados, um do PP e outro do SD.
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