- O Globo
Assim como o então deputado federal André Vargas tornou-se um símbolo para os petistas ao afrontar, com o punho erguido no ar, o então presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa em uma solenidade no Congresso, transformou-se também em um símbolo ao ir para a cadeia na manhã de ontem.
Símbolo de que a Justiça que vem de Curitiba, com o juiz Sérgio Moro, não pretende falhar , embora possa tardar por questões políticas em alguns casos. O fato de Vargas não ter constado da primeira lista entregue à Justiça pelo juiz Moro serviu para que petistas saudosistas dos bons tempos, em que o partido mandava e desmandava, alegassem que ele teria sido cassado injustamente pela Câmara. O mesmo gesto de resistência democrática já fora desmoralizado pelos apparatchik petistas José Dirceu e José Genoino, que entraram na Papuda em Brasília como se estivessem sendo injustiçados em uma luta política. As ligações do mensalão com o petrolão ficam cada dia mais evidentes, o que o falecido deputado Janene, envolvido nos dois processos, comprova.
A prisão ontem do ex-deputado Pedro Corrêa, do PP , que já cumpria pena de prisão domiciliar pelo mensalão, vem reafirmar os laços entre os dois esquemas criminosos, que podem envolver também Dirceu, cujas consultorias estão sob escrutínio dos investigadores do petrolão. Já o publicitário Ricardo Hoffman, da agência Borghi/Lowe, é o Marcos Valério de uma perna do esquema do petrolão, utilizando verbas da Caixa Econômica Federal e do Ministério da Saúde para pagar propinas para o grupo do ex-deputado André Vargas. Não se sabe ainda o tamanho do rombo, mas tudo indica um escândalo maior, e com isso as investigações da Operação Lava-Jato entram em nova fase, para além dos roubos na Petrobras. Várias outras estatais já estão sendo investigadas, como a Eletrobras, e os indícios mostram que o mesmo esquema das empreiteiras foi utilizado em obras gigantescas como a hidrelétrica de Belo Monte, por exemplo. E por que não seria?
Se as mesmas empreiteiras estão envolvidas em diversas obras no país, e o mesmo esquema de poder está no comando, é mais que natural que essa máquina de fazer dinheiro fosse acionada onde quer que houvesse chance de irrigar o caixa do PT , controlado por João Vaccari Neto, que na quinta-feira deu um espetáculo de cinismo na CPI da Petrobras. O procurador Carlos Fernandes Santos Lima definiu a Operação Lava-Jato como ainda "no início", e disse que ela levará as investigações "por mares nunca dantes navegados", numa alusão a áreas tidas como intocáveis até o momento. É interessante notar como o juiz Sérgio Moro e os procuradores do Ministério Público têm a noção exata de que precisam do apoio da opinião pública para avançar nas investigações.
Ontem o procurador Santos Lima pediu o apoio da população. Já o juiz Sérgio Moro não tem se furtado a comparecer a cerimônias em que os êxitos da Operação Lava-Jato são festejados, como na do GLOBO, em que recebeu o Prêmio Faz Diferença como a Personalidade do Ano. Ele não se deixou levar pela soberba em nenhum momento, e sempre destacou o trabalho de equipe nas suas declarações públicas. A sensação de estar no começo, um ano depois de iniciada, é causada pelas descobertas novas a cada avanço das investigações.
E como eles se dispõem a enfrentar "mares nunca dantes navegados", o juiz Moro e os procuradores do Ministério Público precisam mesmo do apoio da opinião pública para que não sejam barrados na intenção de aprofundar as investigações. Mesmo que não sejam os objetos primeiros das manifestações de rua marcadas para amanhã, os investigadores da Operação Lava-Jato se sentirão respaldados por elas, como aconteceu em março.
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