- O Estado de S. Paulo
O primeiro passo do ajuste fiscal passou apertado na Câmara dos Deputados, pela contagem de 252 votos a favor e 227 contra. Foi o que aprovou a Medida Provisória 665, que reduz o acesso ao seguro-desemprego e ao abono salarial.
Desta vez, a atitude oportunista e demagógica foi assumida por boa parte da oposição, especialmente pelo PSDB, que votou contra, ou seja, na contramão de sua pregação política e das bandeiras expostas ao longo de sua campanha eleitoral.
Até agora, os tucanos vinham criticando o PT pela condução desastrada das contas públicas, no que têm razão, e pela falta de empenho na política de ajuste. Eis que, na hora de decidir pela distribuição de contas para a sociedade, o PSDB fechou questão contra as primeiras medidas da correção de rumos.
Mostrou que está pouco focado no interesse público e, ao contrário do que espalha, não põe o empenho que lhe cabe no cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal que ajudou a aprovar. Quer mais é ver o governo e o PT sangrando, como já disse o senador paulista Aloysio Nunes Ferreira, do que a economia consertada. E nisso não se comporta de maneira diferente do que se comportou o PT, seu principal alvo de críticas, que também rechaçou os programas de ajuste do governo Fernando Henrique. Quem é que vai agora acreditar na sinceridade dos tucanos quando voltarem a recomendar o equilíbrio das contas públicas?
Paradoxalmente, outros políticos da base do governo tiveram de lembrar ao PT que eles são governo e não oposição. Trabalho consistente foi desta vez feito pelo líder do PMDB na Câmara, deputado Leonardo Picciani (RJ). Ele enquadrou os deputados do PT, que relutavam em assumir os ônus da política fiscal e não tiveram para isso o apoio do ex-presidente Lula, que se omitiu também oportunisticamente, porque pretendeu parecer favorável às posições de curto prazo dos sindicatos.
Esta é uma postura equivocada porque o único objetivo da operação que visa ao reequilíbrio das contas públicas é garantir de maneira sustentável a retomada do crescimento econômico, a recuperação do emprego e do poder aquisitivo do assalariado, queimado pela inflação. Desse ponto de vista, votar contra o ajuste é votar contra os interesses mais importantes do trabalhador.
A alegação de que o pagamento da conta do ajuste deva limitar-se aos ricos não passa de sofisma de quem quer ver piorar tudo, derrubar ainda mais os investimentos e provocar mais desemprego à frente.
Do ponto de vista prático, a aprovação dessa primeira etapa do ajuste pode ajudar na recuperação da economia, que continua em retração. Mas não conta com o apoio de quem historicamente cobra consistência fiscal. Os obstáculos políticos para a volta da racionalidade na administração da política econômica dentro e fora do governo continuam gigantescos.
No mais, o governo Dilma segue falhando na definição de rumos. Por enquanto, está empenhado apenas em sanear as contas. Não foi capaz de explicar como pretende recuperar os investimentos nem como pavimentará a estrada para a retomada do crescimento econômico.
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