• Votação do ajuste fiscal amplia poderes dos vários PMDBs e diminui ainda mais Dilma e seu partido
- Folha de S. Paulo
A câmara aprovou, a muito custo, a primeira parte dos pacotes de arrocho de gastos e aumento de impostos --ficou mais difícil conseguir seguro-desemprego. Parece agora mais provável que passe o resto do plano Levy, ainda que talhado, aparado e atrasado, o que deve reduzir em um terço o total de dinheiro que o governo esperava arrecadar neste ano.
Dilma Rousseff e o PT saíram politicamente arrochados do episódio, um ajuste que evidenciou o corte do orçamento de poder da presidente e de seu partido, que de resto saíram ainda mais estranhados da refrega. Considere-se.
Primeiro, o primeiro pacote do dito ajuste fiscal passou na Câmara só porque parte da oposição cedeu alguns votos, 19 votos. Caso 13 oposicionistas de DEM, PSB, PV ou SD mudassem de ideia, a coisa desandava.
Segundo, o PMDB demonstrou que pode mandar não apenas em parte do governo mas que também manda no PT. Decidiu que apenas aprovaria o primeiro dos pacotes do Ministério da Fazenda caso o PT "fechasse questão", determinasse o comportamento da bancada. Está certo que, dos 64 deputados, do PT, 10 ainda se recusaram a aprovar o primeiro aperto do arrocho. Mas a regra do PMDB era clara: se o PT não dançasse conforme a música do governo, ninguém mais iria ao baile.
Aliás, diga-se de passagem e abstraída a mumunha política do momento, o PMDB fazia uma exigência óbvia e razoável. Se o partido da presidente quer debandar, eles que são vermelhos que se entendam.
Terceiro, a coordenação da vitória, ainda que parcial e precária, foi de Michel Temer, PMDB, vice-presidente, assessorado pelos outros ministros do partido. Enquanto esteve sob o comando nominal do PT, a articulação política do governo Dilma 2 produziu apenas derrota e caos. Ou seja, o PMDB assumiu de fato e, sob certo aspecto, por mérito mais uma parte do poder de governo.
Temer, portanto, pelo menos começou a arrumar a bagunça parlamentar criada pelos petistas entre o final de 2014 e o primeiro trimestre deste ano. Negocia o subministério (os cargos de segundo escalão). Eduardo Cunha, PMDB, presidente da Câmara, define boa parte da agenda parlamentar. Renan Calheiros, PMDB, determina a, por assim dizer, contra-agenda, ao mesmo tempo em que azucrina Dilma Rousseff.
Em suma, Cunha, Calheiros e Temer lideram sublegendas do PMDB, todos os três calculando a seu modo como caminhar sobre as ruínas do governo petista até 2018, sem tropeços que atrapalhem projetos de poder presidencial, plano inédito no partido em quase 30 anos, oportunidade proporcionada pelo PT, saudações. Cunha seria o candidato do PMDB-Oposicionista A, Calheiros poderia inventar José Serra, ora PSDB, como candidato do PMDB-Oposicionista B, e Temer seria o nome do PMDB-Governista.
O que resta do PT, evidenciado nos discursos de Lula e no programa que o partido levou à TV, exime-se de defender o programa básico ou restante de Dilma 2. Tal programa, como se sabe, por ora limita-se ao arrocho para evitar a ruína e ao desmanche da política econômica de Dilma 1, plano elaborado, implementado e governado até politicamente por Joaquim Levy, ministro da Fazenda.
Não é de admirar que o PT esteja à beira de ir para a oposição a si mesmo.
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