• No PSDB, Serra quer debater com bancada texto que sair da Câmara
Maria Lima e Cristiane Bonfanti – O Globo
BRASÍLIA - Vencida a batalha da Câmara, o vice-presidente Michel Temer, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e outros articuladores do governo já começam a preparar o terreno para a votação do pacote de ajuste fiscal no Senado. Embora haja confiança dos governistas de que as dificuldades com a bancada do PT serão menores, com dissidências isoladas, o maior problema será administrar a oposição ferrenha do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ele tem feito críticas diárias ao pacote por cortar investimentos e direitos trabalhistas, sem reduzir gastos e a máquina.
Em reunião ontem com uma frente de 50 entidades sindicais, Renan foi aplaudido várias vezes ao repetir que as medidas serão bastante debatidas e que ele se colocará contra qualquer retrocesso para os trabalhadores.
- Enquanto o Executivo castiga os trabalhadores em busca de R$18 bilhões, nós, do Legislativo, demos nossa contribuição para o ajuste, que não pode ser chamado de ajuste fiscal, mas ajuste trabalhista, com a aprovação da emenda que vai gerar uma economia de R$ 4 bilhões por ano (referindo-se à PEC da Bengala) - disse Renan na solenidade de promulgação da PEC.
Se na Câmara o PT hesitou em apoiar as MPs, o líder do partido no Senado, Humberto Costa (PE), vai tentar fechar questão. Ele diz que o relator Paulo Rocha (PT-PA) já flexibilizou o que foi possível e isso acalmou os petistas, com exceção de Paulo Paim (RS), adversário do ajuste, que vai apresentar quatro emendas. Mas Paim diz ter aliados no PT:
- Tenho conversado com o Lindbergh (Farias) e o Walter Pinheiro, que se aproximam mais da minha posição e me disseram que assinariam as emendas comigo.
Na oposição, o líder do PSDB, Cássio Cunha Lima (PB), diz que o partido vai votar fechado contra as medidas do ajuste, com exceção do senador José Serra (SP), que quer discutir o texto que vier da Câmara com a bancada.
- Vamos fazer um trabalho para unificar a bancada. O Serra tem a preocupação com questões macroeconômicas, mas tem uma hora que temos que ter uma posição em defesa da sociedade - disse Cunha Lima.
Levy defende tripé do ajuste
Serra argumentou que nessas questões não se trata de ficar contra ou a favor do governo e citou o economista José Roberto Afonso, que disse que o ajuste passa mais por corte de investimentos do que de custeio.
- O que tem em pauta é corte de investimento. Vou trocar ideia com a bancada, que pode até liberar ou unificar uma posição -disse Serra.
Em um debate sobre os 15 anos da Lei de Responsabilidade Fiscal, o ministro Joaquim Levy (Fazenda) voltou a fazer apelos para sensibilizar os parlamentares. Ele afirmou que o maior risco que o Brasil corre é de um desequilíbrio fiscal. O ministro lembrou que o governo não gera dinheiro, que os recursos são limitados e não se pode continuar aumentando permanentemente a carga tributária. E ressaltou que "não se pode entrar numa trajetória de que todo imposto é ruim, de que tem de baixar imposto sem pensar o que está acontecendo do lado do gasto".
- Para a economia, se não tiver equilíbrio, você tem custos crescentes e entra num impasse fiscal que é ruim para a sociedade e a atividade econômica Se começa a haver desequilíbrio, todo o cenário começa a se deteriorar, a começar pela inflação - advertiu.
Levy considerou que a votação da MP 665 representou a primeira etapa do "tripé do ajuste fiscal", que inclui a MP 664 (que altera as regras de benefícios previdenciários) e o projeto de lei que eleva as alíquotas da tributação sobre a folha de pagamento das empresas.
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