Aliados cobram a fatura
• Partidos da base do governo exigem cargos de segundo escalão para apoiar outra MP do ajuste
Júnia Gama e Isabel Braga - O Globo
Velhas práticas
BRASÍLIA - Em meio a um escândalo de corrupção que se iniciou com a indicação de aliados de políticos para cargos de direção na Petrobras, o governo e sua base aliada lançaram mão de fisiologismo explícito para aprovar a primeira das duas Medidas Provisórias (MPs) do ajuste fiscal. Enquanto o Palácio do Planalto fez negociação aberta de nomeações para o segundo e terceiro escalões, já tendo encaminhado 70 cargos para a Casa Civil, os parlamentares cobraram abertamente a fatura da votação, inclusive ameaçando derrotar o governo na próxima semana caso o palácio não publique as nomeações no Diário Oficial.
Uma longa lista de indicados políticos aguarda liberação do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que recebeu ontem, assim como outros articuladores do governo, como o vice-presidente Michel Temer e o ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil), diversos parlamentares para que fossem sacramentadas as nomeações. Entre os cargos almejados, estão aqueles que lidam com volume significativo de recursos ou que têm influência política local, como as agências de desenvolvimento regionais, as ligadas a Transportes e Saúde, além de diretorias em bancos e representações federais, como delegacias do Ministério da Agricultura.
As mensagens dos parlamentares foram claras no sentido de que, após a aprovação da MP 665, que endurece as regras para concessão de seguro-desemprego e abono salarial, os partidos esperam a prometida recompensa até o início da próxima semana. Caso contrário, alertaram, o governo poderá ser derrotado na votação da MP 664, prevista para terça-feira, que dificulta o acesso à pensão por morte e ao auxílio-doença.
Dilma vai avaliar votação de cada partido
O próprio Michel Temer - que pela manhã foi recebido pela presidente Dilma Rousseff, que o parabenizou pelas articulações que possibilitaram a vitória - vocalizou a situação ao chegar a um evento do PMDB em Brasília. O vice afirmou que a presidente irá avaliar a posição de partidos aliados que votaram contra a MP 665, como o PDT, que não deu nenhum voto favorável à medida. No PP, de 39 deputados, 17 votaram contra; no PRB, de 19, 8 a rejeitaram; e no PTB, de 24, 11 votaram não.
- A presidente Dilma vai examinar depois (se haverá troca no Ministério do Trabalho, que é do PDT), não há nenhuma cogitação agora. O que há no governo é o seguinte: quem ganhou a eleição, quem apoiou o governo, quem ajudou a presidente Dilma vai governar junto - afirmou o vice.
Na manhã de ontem, o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), e mais 18 deputados do partido se reuniram com o ministro Eliseu Padilha para conversar sobre os pleitos de cargos no segundo e terceiro escalões. Padilha ligou para assessores da Casa Civil para repassar os pedidos. Também repassou ao ministro Aloizio Mercadante o recado da bancada: parte das nomeações deveriam ser formalizadas até segunda-feira ou a bancada poderia não apoiar a votação da MP 664.
Mercadante, segundo peemedebistas presentes ao encontro, pediu que Padilha colocasse o telefone no viva voz e fez questão de agradecer o apoio na votação da primeira MP do ajuste. Disse ainda que o governo iria prestigiar os aliados. Com a garantia de nomeações, as votações dos destaques ontem foram mais tranquilas que o sufoco na quarta-feira, com o governo derrubando todos os destaques que tentavam alterar o texto.
O líder do PMDB, Leonardo Picciani, chegou a orientar contra um destaque apresentado por sua própria bancada. Segundo peemedebistas, o desejo do partido são cargos na Companhia Docas e delegacias do Ministério da Agricultura nos estados. No caso do Rio, cargos na Infraero. Estavam presentes no encontro com Padilha deputados de estados como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Alagoas, Piauí e Paraíba. A expectativa da bancada é que pelo menos seis indicações que já passaram pelo crivo da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) se concretizem até segunda-feira à noite.
PDT diz que sai "sem problema"
O PP, que se dividiu na votação depois de ter cogitado ficar contra o governo, cobiça cargos na Agência Nacional de Vigilância Sanitária, na Agência Nacional de Transportes, no Cade, entre outros. O partido também espera obter nomeações até o início da próxima semana para ajudar na votação da MP 664. Já entre os parlamentares do PR, há diversas nomeações liberadas, como a diretoria do Dnit e o comando das unidades regionais do órgão no Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Norte. O partido pretende manter o que ocupa e ampliar o número de estados nos quais comanda cargos ligados ao Dnit. Em 2011, indicados do partido foram retirados desses cargos por suspeita de corrupção, em meio à chamada "faxina ética" que a presidente Dilma promovia.
As negociações explícitas, no entanto, provocaram reações entre aqueles que não acompanharam o voto do governo.
- Votei contra porque não aceitei a ingerência do líder do governo na nossa reunião, prometendo espaços e transformando o encontro da bancada na Câmara em balcão de permuta - justificou o deputado Danilo Fortes (PMDB-CE).
- Se quiser tirar o Ministério Trabalho, não tem problema nenhum, se ela achar que não precisa do PDT, saímos sem problema. Não vamos nos submeter a qualquer pressão indevida. Agora, acho deselegante o líder do governo (José Guimarães) oferecer o ministério ocupado pelo PDT para outros partidos - afirmou o líder do PDT, André Figueiredo, cujo partido votou integralmente contra a MP 665. (Colaborou Simone Iglesias)
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