Vera Rosa – O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Depois de fazer duras críticas ao PT e ao governo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentará pôr um freio de arrumação na crise política. Na segunda-feira, quando a presidente Dilma Rousseff estará nos Estados Unidos, Lula vai se reunir com as bancadas do PT no Senado e na Câmara, em Brasília, para pedir que os deputados e senadores saiam da defensiva em relação à Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Lula está preocupado com o que chama de "desarticulação" do PT e "paralisia" do governo diante da sucessão de denúncias. Quer unificar o discurso e acertar o passo petista no Congresso. Não esconde, por exemplo, a contrariedade com os rumos da CPI da Petrobrás, que convocou para depor o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto.
Em conversas reservadas, ele tem dito que a oposição quer transformá-lo no próximo alvo da Lava Jato e não vê reação do governo. Não é só: o ex-presidente não se cansa de criticar o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que, na avaliação dele, não tem controle da Polícia Federal. Ministros próximos de Dilma e Lula trabalham, nos bastidores, para uma reaproximação entre os dois. Ex-titular da Secretaria-Geral da Presidência e homem da confiança de Lula, Gilberto Carvalho, hoje presidente do Sesi, e o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, também estão ajudando a jogar água na fervura.
Página virada. Para o ex-presidente, Dilma precisa urgentemente "virar a página do ajuste fiscal" e o PT, reagir às denúncias com veemência. Lula também tem dito que PT e PMDB precisam se acertar no Congresso. Na quarta-feira, por exemplo, a Câmara aprovou emenda que vinculou a política de valorização do salário mínimo aos reajustes das aposentadorias graças à traição de partidos da base, como o PMDB, o PDT e o PP. "Nós temos de fazer um pacto interno pelo PT e pela governabilidade", disse o líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE). "Tudo o que não precisamos no momento é de briga interna, pública." Embora Dilma tenha dito que Lula tem "todo o direito de fazer críticas", seus gestos contrariaram o Planalto.
A portas fechadas, ministros do PT observam que o ex-presidente toma a dianteira para se afastar dos escândalos de corrupção que abalam o partido e aponta falhas do governo na tentativa de se preservar politicamente. Apesar da crise, Lula ainda é, hoje, o nome mais forte do PT para disputar a sucessão de Dilma, em 2018. A candidatura, porém, depende do êxito do governo e da recuperação da imagem do PT, desgastada com um escândalo após o outro. No Planalto, auxiliares d a presidente dizem que as críticas de Lula prejudicam o governo e abafam a "agenda positiva" das concessões de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias, jogando luz sobre a divisão entre "criador" e "criatura".
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