• Mea-culpa do ex-presidente foi relatado por Rui Falcão em reunião fechada da cúpula da sigla
• Dias atrás, ao defender a renovação do partido, Lula chegou a dizer que hoje petistas "só pensam em cargo"
Catia Seabra, Bela Megale – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Após afirmar que petistas "só pensam em cargo", o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu ter se excedido nas críticas públicas que fez ao PT e ao governo Dilma Rousseff. Em conversas com aliados, também admitiu que suas declarações prejudicam a imagem da sigla, em vez de ajudá-la.
Lula alegou, no entanto, que a imprensa exagerou o tom de sua avaliação e que não tinha ideia de que a repercussão de suas declarações seria tão grande.
Esse mea-culpa foi relatado pelo presidente do PT, Rui Falcão, na manhã desta quinta (25), durante reunião da cúpula da sigla, em São Paulo.
Em sua exposição, Falcão descreveu parte de sua conversa na véspera no Instituto Lula. Segundo participantes da reunião da Executiva do partido, Falcão afirmou que Lula se comprometeu a atuar pela pacificação interna do partido e que cumprirá uma agenda para fortalecê-lo.
A primeira tarefa será um encontro com parlamentares petistas na próxima segunda-feira (29), em Brasília.
Revolução
No início desta semana, Lula pregou uma "revolução" no partido, afirmando que os petistas parecem querer salvar apenas a própria pele.
Seu discurso provocou forte reação interna no partido. Até a presidente Dilma Rousseff se pronunciou, tentando minimizar a polêmica.
Nesta quinta, Falcão também tentou reduzir o impacto dessas declarações. publicamente, em entrevista a jornalistas, afirmou, em entrevista, que o caso não fora tema de debate na reunião.
Apesar da tentativa de aplacar a crise, o partido atendeu à cobrança de Lula e divulgou um texto em que cobra "reorientação" da política econômica implementada pelo governo:
"Avultam entre estas providências a redução da meta de superávit fiscal, a imediata reversão da elevação da taxa de juros praticada pelo Banco Central e a taxação das grandes heranças, das grandes fortunas e dos excessivos ganhos financeiros", diz o texto redigido por Falcão, em consonância com demais dirigentes petistas.
O PT reivindica ainda a "aceleração da negociação com centrais sindicais para lançamento de um plano de proteção ao emprego".
Autor de um texto que serviu de base para este parágrafo, o secretário de Formação Política do PT, Carlos Henrique Árabe, explica que a proposta ganhou força após os rumores de aumento da meta de superávit.
"Espetáculo"
A resolução da executiva do PT ataca ainda a atuação da Justiça, da Polícia Federal e do Ministério Público na Operação Lava Jato.
Segundo o documento, há uma "ação ilegal, antidemocrática e seletiva" de agentes públicos num "espetáculo jurídico-político-midiático".
O texto não poupa o TCU (Tribunal de Contas da União): "é inadmissível a disputa política no interior do TCU para colocar sob suspeição as contas de 2014 [do governo federal]".
Seguindo a orientação do ex-presidente, o documento também alerta para o risco de "quebra" de empresas investigadas na Operação Lava Jato. "Preocupa o PT as consequências para a economia nacional do prejulgamento de empresas acusadas", diz.
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