- O Estado de S. Paulo
O mercado de trabalho custou a sentir o baque da retração econômica, mas agora a panela de pressão do desemprego destampou. Nos últimos meses, os indicadores da mão de obra ocupada, do pessoal procurando emprego e dos níveis salariais apresentam números piores. Já há quem projete, para o futuro próximo, uma taxa de desemprego de dois dígitos, o que não se tinha notícia desde o fim do segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique, na entrada dos anos 2000. O percentual pode ser exagerado, mas não a direção do movimento.
Foram duas as principais razões que seguraram a taxa de desemprego em níveis baixos até recentemente, mesmo com a atividade econômica descendo a ladeira, já a partir de 2013 e mais francamente em 2014. A primeira veio do esforço das empresas, sobretudo no setor industrial, em evitar demissões. A outra tinha como origem a mudança no padrão de renda das famílias das chamadas classes C e D, ocorrida na última década e meia.
No primeiro caso, altos custos de demissão, combinados com outros custos, alguns não tangíveis, mas relevantes, como os de treinamento de mão de obra, fizeram as empresas recorrerem a diversos expedientes antes de decidir pelo desligamento de pessoal. Particularmente sensível a isso, o setor industrial cortou turnos, reduziu jornadas de trabalho e colocou pessoal em férias coletivas antes de decidir pelos desligamentos.
Isso ajudou a segurar a taxa de ocupação, já alimentada positivamente pela absorção de mão de obra menos qualificada, em especial pelo setor de serviços. Já a melhora da renda e das condições de obtenção de crédito também operou não só no reforço da demanda de mão de obra pelo setor de serviços, mas também ajudou a promover um inédito retardamento do ingresso de jovens no mercado de trabalho. Com alguma folga no orçamento, muitas famílias preferiram alongar o tempo de escola dos filhos ou netos, mantendo-os fora do mercado de trabalho.
Esse fato contribuiu para reduzir o ritmo de expansão da População Economicamente Ativa (PEA), pois, por definição, pessoas que não estão à procura de emprego permanecem fora da PEA. O normal, em resumo, é a PEA crescer 1% ao ano, mas, em 2014, por exemplo, houve um recuo de 1%. Mas o fenômeno está agora em reversão, com a paulatina aceleração da procura por emprego, inclusive por jovens que não estão conseguindo se colocar, impulsionando, no momento, tanto ou mais do que as demissões e o fechamento de postos de trabalho, a escalada da taxa de desemprego.
Um outro fator concorreu para a recente resistência do mercado de trabalho brasileiro ao desemprego. Ele está relacionado ao fenômeno da redução da informalidade, que ganhou força nos últimos dez anos, com amplo impacto em toda a atividade econômica. O rearranjo do momento está provocando uma rápida deterioração do emprego no segmento formal. Nos primeiros cinco meses deste ano, houve uma perda de 180 mil vagas formais, em comparação com o mesmo período de 2014. E a pior notícia é que os fechamentos de postos têm ocorrido nos melhores empregos. A indústria, setor que concentra a mão de obra mais qualificada, respondeu por metade das vagas fechadas em maio.
A expansão dos trabalhadores "por conta própria", uma outra face das dificuldades agora encontradas para encontrar ou manter empregos, é o retrato da nova e negativa tendência do mercado de trabalho. De janeiro a maio deste ano, o número de trabalhadores nesta modalidade cresceu 2,5% sobre o mesmo período do ano anterior. Significa que não só uma boa parte de quem perdeu emprego está tentando se virar na informalidade, como muitos dos que procuraram trabalho não encontraram e foram se defender como fosse possível.
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