Daniela Lima – Folha de S. Paulo
• Debate sobre maioridade penal e impeachment de Dilma expõe diferenças entre caciques e bancada da Câmara
• Cúpula do partido freia deputados, mas conta com eles para dialogar com os novos segmentos eleitorais
SÃO PAULO - Poucos dias antes de iniciar sua peregrinação por Brasília em defesa de uma proposta alternativa à redução da maioridade penal, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), pediu a um aliado que fizesse um levantamento informal sobre a posição da bancada de seu partido na Câmara sobre o tema.
O resultado o surpreendeu: dos 53 deputados do partido, 40 diziam ser favoráveis à emenda constitucional que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos.
Muitos mudaram de opinião desde então, mas o resultado da enquete é um reflexo das transformações sofridas pela bancada do PSDB nos últimos tempos.
Os tucanos nunca tiveram uma bancada tão jovem e tão conectada às redes sociais da internet. A média de idade é 50 anos, e o deputado mais novo tem 26. Ela é mais diversificada, incluindo até evangélicos e delegados de polícia, e mais radical.
Ao lado de Alckmin, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente nacional da legenda, conseguiu na semana passada conduzir a bancada da Câmara a uma posição intermediária na discussão sobre os menores infratores.
Prevaleceu um projeto do senador Aloysio Nunes (SP), que reduz a maioridade penal apenas para crimes mais graves, como homicídios, estupros e sequestros.
"Hoje, 95% dos nossos deputados estão fechados com a proposta", diz o líder da bancada na Câmara, Carlos Sampaio (SP).
O ímpeto dos deputados --apelidados de "cabeças pretas", numa referência à sua média de idade-- foi criticado por nomes históricos do PSDB, como o ex-deputado Arnaldo Madeira e o ex-governador paulista Alberto Goldman. Eles viram na oposição aguerrida sinal de ausência de um projeto e de responsabilidade com as finanças do país.
Os deputados contra-atacaram. "Arnaldo e Goldman são pessoas queridas e têm história no partido, mas é como colocar o Zico e o Pelé para jogar na seleção", diz o deputado Marcus Pestana (MG).
Não foi a primeira vez neste ano que as rusgas extrapolaram o ambiente interno. Não raro, os "cabeças brancas", como são chamados os membros da sigla no Senado --mais velhos que a média dos deputados-- puxam o freio em questões polêmicas.
Foi assim no debate sobre o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A bancada da Câmara defendeu a iniciativa abertamente. Mas líderes como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e Alckmin foram contra, e Aécio forçou uma mudança de rumo. Ouviu reclamações e teve que se defender: "Não há recuo, há estratégia", disse.
Infantaria
Mesmo assim, os tucanos dizem que a sigla vive um momento de grande unidade interna, ainda mais para um partido conhecido por rivalidades internas profundas.
"Precisamos da infantaria, porque eles dialogam com parte importante da sociedade, que espera o enfrentamento do PT", diz um dirigente.
Líderes que têm criticado os deputados por assumir posições incoerentes com o que o partido defendeu no passado, como o fim da reeleição e a mudança do fator previdenciário, cumprem o papel de manter a interlocução do PSDB com segmentos mais tradicionais do eleitorado.
No domingo passado (7), em um artigo publicado no jornal "O Estado de S. Paulo", FHC disse que o partido não deveria aderir ao "quanto pior, melhor". O texto foi interpretado como sinal de reprovação à maneira como Aécio conduz o partido --mas o senador falou com o ex-presidente e soube do teor do artigo antes da publicação.
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