• O que disseram em comum os dezoito delatores da Lava-Jato e por que é falso o argumento de que eles só decidiram revelar o que sabem para sair da prisão
Mariana Barros e Pieter Zalis - Veja
De cada seis réus da Lava-Jato, um já decidiu abrir a boca. Desde o início das investigações, há dezesseis meses, a operação que investiga os desvios de verba da Petrobras conseguiu fazer com que a Justiça aceitasse denúncias contra 114 acusados, entre empreiteiros, lobistas, doleiros, ex-dirigentes da Petrobras e políticos. Destes, dezoito se transformaram em delatores premiados — ou seja, em acordos assinados com o Ministério Público e homologados pela Justiça, prometeram contar tudo o que sabem em troca de redução da pena pelos crimes que cometeram. O mais recente convertido é o lobista Milton Pascowitch, que atuava em favor da Engevix, uma das empreiteiras favorecidas por obras da Petrobras em troca de propina, conforme apontam as investigações. Pascowitch admitiu ter pago 1,5 milhão de reais ao ex-ministro José Dirceu, entre consultorias e "pixulecos" destinados a garantir a presença da empreiteira no esquema do petrolão.
VEJA cruzou as informações dadas até agora pelos dezoito delatores da Lava-Jato para identificar os pontos coincidentes. Aqui, os principais:
• O esquema do petrolão começou no governo Lula: é o que disseram os delatores Augusto Mendonça, Eduardo Leite, Pedro Barusco, Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef e Ricardo Pessoa.
• O esquema continuou no governo Dilma: a afirmação aparece nos depoimentos de Pedro Barusco, Paulo Roberto Costa, Ricardo Pessoa, Alberto Youssef e Eduardo Leite.
• As doações legais ao PT, PMDB e PP eram pagamento de propina: a revelação foi feita por Augusto Mendonça, Ricardo Pessoa, Eduardo Leite, Alberto Youssef e Pedro Barusco.
• João Vaccari era o interlocutor do PT para tratar do pagamento dos subornos: confirmaram a informação os delatores Ricardo Pessoa, Augusto Mendonça, Alberto Youssef, Eduardo Leite e Pedro Barusco.
• José Dirceu manteve consultorias de fachada para tomar dinheiro de empreiteiros: é o que disseram Milton Pascowitch e Ricardo Pessoa.
O levantamento mostrou ainda que, dos dezoito réus que decidiram colaborar com as investigações, apenas seis estavam presos e foram soltos depois de assinar o acordo de delação. Esse resultado contraria o argumento de advogados que acusam os investigadores da Lava-Jato de estar usando as prisões preventivas para pressionar os réus a aderir à delação. E reforça a ideia de que o que move os delatores é "muito mais o medo do processo e da prisão no futuro do que o encarceramento preventivo", como disse o procurador Carlos Fernando Lima, integrante da Lava-Jato.
Nos Estados Unidos, o uso da delação premiada foi fundamental para chegar aos culpados em casos como as fraudes financeiras do gigante de tecnologia Enron e, mais recentemente, para prender acusados no esquema de corrupção da Fifa. No Brasil, a delação só ganhou impulso em 2013, quando alterações legais aumentaram as garantias de concessão de benefícios aos colaboradores, estimulando as adesões. A lei que alterou a regra original foi assinada por Dilma Rousseff. Na semana passada, a presidente, que chegou a elogiar publicamente a legitimidade e a eficiência do instrumento, declarou que não respeita delatores. Infelizmente, para a presidente, a recíproca também é verdadeira — como deixou claro o delator Ricardo Pessoa ao revelar que a contribuição "voluntária" e "legal" que deu à campanha de Dilma em 2014 foi, na verdade, fruto de achaque.
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