- O Estado de S. Paulo
• Com autorização do STF, operação abre fase da investigação que tem como alvo políticos com foro privilegiado; agentes apreenderam carros, dinheiro e documentos em imóveis do ex-presidente, de outros 2 senadores e de 1 deputado; para Renan, ação "beira a intimidação"
A Polícia Federal deflagrou ontem a Operação Politeia, a primeira fase da Lava Jato nas investigações que correm perante o Supremo Tribunal Federal e que, portanto, atingem suspeitos com foro privilegiado. Foram cumpridos 53 mandados de busca e apreensão em Brasília e em seis Estados. A ação ampliou o clima de turbulência política na capital federal e gerou reações no Congresso. Entre os principais alvos estão três senadores – Ciro Nogueira (PP-PI), Fernando Collor (PTB-AL) e Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE)–, além do deputado Eduardo da Fonte (PP-PE); do ex-ministro das Cidades Mário Negromonte; e do ex-deputado João Pizzolatti (PP-SC). Por terem foro privilegiado, eles não podem ser investigados na Justiça Federal em Curitiba, base da Lava Jato.
Segundo a PF, foram apreendidos documentos, joias, artigos de luxo e dinheiro nos locais. Em um balanço parcial, a PF informou a apreensão de valores em três moedas: R$ 4 milhões; US$ 45 mil; e €24,5 mil. Além disso, foram apreendidos oito veículos, sendo cinco de luxo; duas obras de arte; relógios, HDs, mídias e documentos. As buscas foram realizadas em Brasília, Alagoas, Bahia, Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Na Casa da Dinda, residência de Collor em Brasília, os agentes levaram três automóveis de luxo importados. Por meio de notas, as defesas dos investigados criticaram a operação. As reações também ocorreram no Congresso, onde o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou que a Lava Jato "beira a intimidação".
Além de políticos, o advogado Tiago Cedraz, filho do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz, teve a casa e o escritório, ambos em Brasília, incluídos na lista de alvos das buscas e apreensões . Tanto o advogado quanto os políticos foram citados na delação premiada do dono da UTC, Ricardo Pessoa, homologada pelo STF no mês passado. A PF também fez buscas na Refinaria de Abreu e Lima, em Ipojuca (PE), e em endereços dos ex-diretores da BR Distribuidora Luiz Cláudio Caseira Sanches e José Zonis, no Rio.
Ambos foram indicados aos cargos por Collor, suspeito de receber propina no esquema de corrupção da Petrobrás. Sanches ocupou a Diretoria da Rede de Postos de Serviço e Zonis, a de Operações e Logística. Em São Paulo, a PF apreendeu R$ 3,67 milhões que seriam do empresário Carlos Alberto Santiago, dono da rede de postos de combustível Aster Petróleo. Santiago teria intermediado pagamento de propina para Collor, no valor de 1% sobre contrato de R$ 300 milhões da BR Distribuidora.
Inquéritos. Os pedidos feitos pela Procuradoria-Geral da República devem sustentar a abertura de novos inquéritos e reforçar indícios de participação de investigados no esquema de desvios na Petrobrás. Tramitam hoje no Supremo 25 inquéritos, que têm como alvo 48 políticos e dois operadores. Contudo, esse número poderá aumentar porque, entre maio e junho, o STF homologou duas novas delações, que podem dar origem a novas investigações. Uma delas foi a de Rafael Ângulo – considerado o "mensageiro" do doleiro Alberto Youssef, outro delator da Lava Jato –, além da colaboração de Pessoa.
Essas duas novas delações ainda não deram origem a novos inquéritos, mas, no fim de junho, o Ministério Público encaminhou ao Supremo 30 procedimentos referentes à delação de Pessoa. Esse material está sob sigilo até que a Procuradoria e o STF decidam quais inquéritos serão abertos para apurar suposto envolvimento dos citados pelos delatores.
Provas. De acordo com a PF, as ações de ontem foram deflagradas com o objetivo de "evitar que provas sejam destruídas pelos investigados". As ações foram autorizadas pelos ministros Teori Zavascki e Celso de Mello e pelo presidente do STF, Ricardo Lewandowski. Politeia, em grego, faz referência ao livro A República, de Platão, que descreve uma "cidade perfeita", na qual a ética prevalece sobre a corrupção. Em Maceió, base política de Collor, os agentes da PF cumpriram 6 dos 53 mandados de busca e apreensão. Os alvos em Alagoas foram o escritório de Collor, a Organização Arnon de Mello (OAM) –conglomerado de comunicação da família formado por rádios, jornal e emissora de TV filiada da Rede Globo –e a TV Mar, rede de TV a cabo adquirida recentemente pelo senador.
Na OAM, foram apreendidos computadores e documentos dos departamentos de recursos humanos e financeiro. Também foram feitas buscas na residência do diretor executivo da OAM, Luís Pereira Amorim, localizada no condomínio de luxo da capital alagoana. O representante jurídico da organização, Djalma Mello, confirmou a ação da PF na empresa: " (O que os agentes levaram) são documentos da empresa. Só isso que eu tenho a falar. Esta é uma ação solicitada pela Polícia Federal. Os desdobramentos, os senhores podem obter através das autoridades competentes.
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