• Ex-presidente aumenta número de viagens e de entrevistas em que admite erros, ao mesmo tempo em que tenta ampliar influência no governo
Adriano Ceolin - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A crise do governo Dilma Rousseff e o desgaste do PT obrigaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a antecipar os movimentos em favor de sua candidatura para 2018. Ele ampliou a influência no Palácio do Planalto e a agenda de viagens pelo País – em especial na capital federal – e se expôs mais em entrevistas até sobre temas como as investigações envolvendo amigos e um de seus filhos.
Lula pretende ir a Brasília uma vez por semana, a fim de influenciar nas decisões do governo e preservar o bom relacionamento com lideranças de outros partidos. O ex-presidente não acredita que Dilma possa recuperar sua popularidade sozinha e, por isso, resolveu adotar uma estratégia de “redução de danos” para si e para o PT. Mas a tática oferece riscos: na sexta-feira, Lula foi vaiado em evento do movimento negro em Salvador e discursou por menos de 10 minutos.
“Deixa a gente cuidar da política e da economia e bota ela (Dilma) para viajar”, disse Lula a um congressista que goza da confiança do ex-presidente e da sucessora dele. Ainda segundo esse interlocutor, Lula teria deixado transparecer que vai querer tomar conta do governo, sobretudo por considerar que suas últimas ações deram certo.
Desde setembro, o ex-presidente participa das principais decisões do Planalto. A reforma ministerial foi a mais evidente: conseguiu emplacar Jaques Wagner na Casa Civil no lugar de Aloizio Mercadante e, ainda que negue publicamente, tem atuado pela substituição de Joaquim Levy na Fazenda. O ex-presidente também foi determinante para reconstruir a aliança com o PMDB.
Além de defender o aumento do espaço dos peemedebistas de cinco para sete ministérios, Lula costurou um pacto de não agressão com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), que enterrou a possibilidade de abrir um processo de impeachment contra Dilma neste ano. Em troca, Cunha obteve a garantia de que o PT não vai atuar para tirá-lo do comando da Casa.
Comunicação. Desde que deixou o Planalto, em 2010, Lula buscou ambientes seguros para aparecer. Passou a discursar só para plateias amistosas em eventos partidários ou palestras contratadas. Deu pouquíssimas entrevistas, a maioria para blogueiros simpáticos ao PT e ao governo.
Nas duas últimas semanas, Lula mudou de estratégia e concedeu duas entrevistas na TV, para SBT e Globo News. Em ambas, tratou de temas espinhosos e abusou de metáforas. Reconheceu erros e admitiu que o PT disse na campanha que não mudaria a economia, mas o governo adotou um ajuste fiscal.
Ao falar das investigações envolvendo o filho caçula, Luís Cláudio, Lula disse que “ele tem de provar que fez a coisa certa.” Em outubro, o Estado revelou que a Polícia Federal suspeita de compra de medidas provisórias em favor do setor automotivo editadas a partir de 2009. O advogado que teria intermediado a operação, Mauro Marcondes, conhece Lula desde os tempos de sindicalismo e, em 2014, contratou Luís Cláudio por R$ 2,4 milhões – segundo o caçula, para serviços de marketing esportivo.
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