Por Cristian Klein – Valor Econômico
RIO - A eleição à Prefeitura do Rio em 2016 se desenha uma das mais fragmentadas da história, mas os atores políticos - sob a influência da disputa à Presidência da República em 2018 - começam a tratar de afunilar a competição. Em encontro marcado para o dia 30, o presidente nacional do PSDB, senador mineiro Aécio Neves, reunirá um grupo de partidos para a formação de uma frente contra a hegemonia do PMDB - que deve ser apoiado pelo PT na corrida municipal.
O plano de Aécio precede, mas se beneficia do escândalo que atinge o pré-candidato do prefeito Eduardo Paes (PMDB), o secretário de Governo e deputado federal licenciado Pedro Paulo Carvalho, filiado ao mesmo partido. Pedro Paulo tem sido instado a dar explicações sobre agressões à sua ex-mulher, em 2010, em denúncias cujo vazamento é atribuído a fogo-amigo no PMDB.
O encontro com Aécio reunirá nomes que estão entre os possíveis desafiantes da máquina pemedebista, entre eles o do senador Romário (PSB) e dos deputados federais Indio da Costa (PSD), Hugo Leal (Pros) e Cristiane Brasil (PTB). Para a reunião estão convidados ainda representantes do DEM, PPS, Solidariedade e dos dirigentes estadual e da capital do PSDB.
O objetivo de Aécio, segundo um dos participantes do movimento, é "derrubar Eduardo Paes", que ocupava o alto cargo de secretário-geral do PSDB nacional, quando migrou em 2007, para disputar e vencer a prefeitura pelo PMDB. Com isso, o tucano - derrotado na corrida presidencial do ano passado - pretende quebrar uma das pernas do PMDB no Rio, onde o partido também comanda o governo do Estado, desde 2003. O efeito indireto é enfraquecer o projeto presidencial do PT em 2018, quando o PMDB fluminense tende a reconstruir a aliança com os petistas.
No ano passado, o PT rompeu com o governador Luiz Fernando Pezão, que buscava a reeleição, para lançar o senador Lindbergh Farias. Preocupado com a possibilidade de derrota, o presidente estadual do PMDB, Jorge Picciani, firmou uma coligação estratégica com o PSDB. Com isso aumentou o tempo de propaganda na TV e liderou o chamado Aezão, que pedia votos para Aécio à Presidência e para o governador - embora Pezão e Paes se mantivessem aliados a Dilma. Agora, no entanto, os três estão próximos do PT, depois que Picciani passou a apoiar o governo federal por meio do filho, Leonardo, líder da bancada do PMDB na Câmara. A adesão a Dilma, em tão pouco tempo, soou como traição, especialmente porque freou o avanço do movimento pró-impeachment que Aécio tanto buscava.
Entre os cenários aventados pelos tucanos está o de Paes ser o vice na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, caso o prefeito saia fortalecido da Olimpíada e eleja o sucessor.
A prioridade de Paes, porém, é concorrer à sucessão de Pezão. Há, no entanto, um congestionamento de caciques no PMDB fluminense querendo a mesma vaga: o ex-governador Sérgio Cabral - que submergiu e espera recuperar sua imagem até 2018 - e Picciani, que pretende ampliar seus domínios.
O plano do presidente da Assembleia Legislativa era pavimentar a ascensão de Leonardo em Brasília, ao reelegê-lo líder da bancada do PMDB e/ou emplacá-lo na presidência da Câmara, na expectativa da queda de Eduardo Cunha, que é alvo de processo de cassação no Conselho de Ética da Casa. Cunha, porém, resiste mais do que o esperado e a previsão é de que, sentindo-se traído por Picciani -- agora governista - fará de tudo para que Leonardo não assuma seu lugar.
Por isso, o clã Picciani teria passado a priorizar novamente a Prefeitura do Rio como espaço a ser conquistado. O filho mais novo de Picciani, Rafael, já está acertado para ser o vice na chapa de Pedro Paulo. Mas as recentes denúncias contra o secretário de Paes, vazadas à imprensa, são vistas como parte de uma estratégia para derrubar de vez Pedro Paulo da cabeça de chapa e colocar Leonardo ou Rafael em seu lugar.
Antes considerado o nome a ser batido, Pedro Paulo corre o risco de ter uma candidatura natimorta. Paes ainda o defende - como fez ontem, ao inaugurar campo de golfe olímpico. Mas a situação é cada vez menos sustentável, de acordo com correligionários.
Neste cenário, a articulação de Aécio Neves encontra terreno fértil. Hegemônico, mas com uma candidatura à prefeitura enfraquecida, o PMDB tem mais dificuldade de atrair Romário e demovê-lo de concorrer. O PSB ocupa a secretaria municipal de Esportes, mas o quinhão é considerado mais uma retribuição ao apoio do senador ao PMDB nas últimas eleições do que um compromisso com o que virá. Romário estaria preocupado em associar o seu nome a um candidato envolvido com episódios de violência doméstica.
Pelo cálculo dos tucanos, a candidatura da frente de partidos de oposição ao PMDB - encabeçada por Romário ou outro nome, como o de Indio da Costa, que preside o PSD, segundo maior partido no Estado, ao lado do PR - pode se favorecer pela divisão de votos da esquerda, caso o deputado federal Alessandro Molon (Rede, ex-PT) tire votos do estadual Marcelo Freixo (PSOL), que já obteve resultados expressivos em eleições majoritárias. Por outro lado, no segmento religioso, o senador Marcelo Crivella (PRB) - que disputou o segundo turno com Pezão no ano passado - também poderia se enfraquecer se Clarissa Garotinho (PR) concorrer, o que, no entanto, é considerado menos provável já que a deputada federal está grávida.
A principal esperança, no entanto, é na divisão do PMDB, que levaria à falta de quadros. Leonardo ou Rafael Picciani são considerados jovens demais. O secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osório, não encontraria simpatia de Paes nem Picciani. Cabral poderia ser o tertius, mas enfrenta altíssima rejeição no eleitorado. E, para Paes, que não construiu um plano B, não há interesse em eleger um sucessor próximo a Picciani ou a Cabral, e enfraquecer seu projeto a governador. No limite, cogita até mudar de partido.
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