Dilma: ‘Temos que defender a nossa democracia contra o golpe’
• Presidente é recebida com gritos de apoio por plateia de servidores e sindicalistas
Catarina Alencastro, Sérgio Roxo, Stella Borges - O Globo
BRASÍLIA e SÃO PAULO - Recebida por servidores públicos e sindicalistas com gritos de apoio como “Olê, olê, olê, olá, Dilma, Dilma” e “Não vai ter golpe”, a presidente Dilma Rousseff aproveitou a solenidade de encerramento da 15ª Conferência Nacional de Saúde para fazer ontem discurso em defesa do seu mandato. Disse que o processo de impeachment não tem fundamento, e que vai lutar com todos os instrumentos democráticos para se manter no cargo. Dilma chegou a classificar de “golpe” a tentativa de demovê-la da Presidência, e foi categórica ao afirmar que fica no governo até 2018.
— Temos que defender nossa democracia contra o golpe. Essa luta vai nos exigir muito diálogo e trabalho. Até 2018 eu e meu governo seremos incansáveis para cuidar da saúde de todos os brasileiros — disse Dilma, que ontem foi formalmente notificada sobre a aceitação do processo de impeachment pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
Segundo a presidente, a aceitação do impeachment foi o ápice de uma luta dos que não aceitaram até hoje sua reeleição, no ano passado. E que, desde o primeiro dia de seu segundo mandato, têm feito movimentos sistemáticos para “afundar o país”. Ela citou as pautas-bomba como exemplo.
— Não tem fundamento o processo do meu impedimento. Eu vou fazer a defesa do meu mandato com todos os instrumentos previstos no estado democrático de direito — disse Dilma.
“Nada fiz que justificasse o pedido”
Ela disse que continuará dialogando com os segmentos da sociedade para mostrar que a luta não é em favor de uma pessoa ou de um partido ou grupo de partidos:
— É uma luta em defesa da democracia deste país, construída com muito esforço ao longo das últimas gerações. Não vamos nos enganar. O que está em jogo agora são as escolhas políticas que fizemos nos últimos 13 anos. São 13 anos em favor da soberania do Brasil, em defesa sistemática do povo, do emprego, da renda, da oferta de serviços de qualidade. Eu vou lutar contra esse pedido de impeachment porque nada fiz que justificasse esse pedido e porque tenho compromisso com a população deste país que me elegeu.
A presidente repetiu o que tinha dito no pronunciamento de quarta-feira: não tem conta na Suíça, não cometeu atos ilícitos e, em sua biografia, não há “nenhum ato de uso indevido de dinheiro público”. Neste momento, foi interrompida pelos presentes com gritos de “Fora, Cunha”. Dilma se emocionou no início do discurso. Ela foi recebida com palavras de ordem logo ao ter seu nome anunciado para ocupar o palco.
— Vocês não imaginam quanto isso que vocês estão fazendo faz bem para a alma da gente. Um abraço apertado, um abraço de irmã — disse Dilma, num tom pouco usual em seus discursos.
Aderindo à estratégia de não deixar provocações sem resposta, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), reagiu ontem aos ataques de Dilma:
“Não me sinto atingido pelas palavras da presidente e lamento que o maior escândalo de corrupção, de desvio de dinheiro público, do mundo esteja na maior empresa do governo dela; dirigida por ela desde 2003, seja como ministra, seja como presidente do conselho ou seja, ainda, como presidente da República", disse Cunha, por meio de assessoria.
Em São Paulo, a Executiva do PT decidiu ontem colocar o partido em estado permanente de mobilização para barrar o processo de impeachment. A avaliação é que a posição contra Eduardo Cunha reconectou a sigla com sua base e com os movimentos sociais.
— A decisão de que os nossos deputados negassem apoio a Cunha no Conselho de Ética foi sinalização efetiva para todos. E com esses movimentos que saudaram a decisão do PT, isso reunificou a base e trouxe de volta uma luta comum — disse o presidente do PT, Rui Falcão.
No fim de semana vão ocorrer atos no Ceará e em São Paulo. Segunda-feira, está previsto um encontro da CUT com a presença do ex-presidente Lula. Na resolução aprovada, o PT classifica o impeachment como “sórdida vingança” e “ameaça golpista”.
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