• Na Europa, ex-presidente diz que defesa feita pela presidente não trata das acusações de crime de responsabilide fiscal
Lucas Rohan - O Estado de S. Paulo
LISBOA - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) fez críticas nesta sexta-feira, 4, à defesa apresentada pela presidente Dilma Rousseff após o anúncio da abertura do processo de impedimento contra ela na Câmara, quarta-feira passada. “Eu acho que ela mesma se comparou ao Eduardo Cunha e não deveria ter feito isso porque ninguém está dizendo isso. O que está sendo dito não é sobre ela como pessoa, é como presidente, que teria havido um abuso na lei de responsabilidade fiscal. Não existe nenhuma acusação menor a ela”, disse FHC, durante evento em Lisboa.
Na quarta-feira, Dilma afirmou que não mantém contas na Suíça, numa referência direta ao presidente da Câmara, alvo de inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF).
Questionado sobre fundamentos jurídicos, FHC afirmou que a abertura do processo de impeachment da presidente é “constitucional”. “Claro que existe(lógica para o impeachment), é constitucional. Não temos o que discutir.”
Segundo ele, “impeachment é sempre um processo delicado. Agora é preciso ver os fundamentos. Os advogados que o fizeram são competentes. E, depois, é preciso ver a questão política, se a maioria se dispõe a votar a favor da abertura do impeachment”, comentou.
Fernando Henrique classificou de “manobra” a discussão do PSDB sobre a possibilidade de cancelar o recesso parlamentar. Para FHC, é natural que haja esse debate, mas ele acredita que não vai haver cancelamento das férias do Congresso.
“Algum recesso sempre há, temos o Natal etc. Por mais que as pessoas fiquem aflitas, há. Isso são manobras de um lado e do outro. A situação é muito grave, não precisa de manobra. Eu acho que vai se impondo a realidade progressivamente e quanto mais debate houver, quando mais aberto for o Congresso, melhor”, defendeu o ex-presidente.
Ainda de acordo com FHC, o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff não pode ser “objeto de desejo”. “Eu acho que o impeachment não deve ser objeto de desejo. Acontece. No caso, precisamos ver. Se acontecer mesmo, teremos que levar a fundo porque o Brasil não pode ficar paralisado e neste momento ele está”, disse FHC. Para ele, “ninguém no Brasil quer golpe”. “Não há quem possa dar sustentação ao golpe no Brasil. Ninguém quer golpe. O Brasil quer mais eficiência na ação, mais legitimidade no Congresso. Ninguém quer golpe, está fora de cogitação”, afirmou. A democracia, declarou, está “viva”. “A Justiça está funcionando, a mídia funciona, temos liberdade, faltam instituições mais sólidas e mais representativas, mas não há risco para a democracia. ”
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