• Acusações chegam no momento que o ex-presidente se prepara para assumir um ministério para tentar salvar o governo de Dilma Rousseff
Fábio Fabrini, Adriano Ceolin, Beatriz Bulla, Ricardo Brandt – O Estado de S. Paulo
A delação premiada do senador Delcídio Amaral (PTMS) atinge o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no momento em que ele ensaia assumir vaga no ministério da presidente Dilma Rousseff com a missão de reaglutinar a base aliada para salvá-la do impeachment e fazer esforços para atenuar as crises política e econômica. O nome do petista, já implicado na Operação Lava Jato, aparece ao menos 186 vezes na colaboração, homologada pelo Supremo Tribunal Federal. Delcídio diz que partiu do ex-presidente a ordem para que ele convencesse o ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró a não delatar o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula. A tentativa resultou na prisão do senador em novembro.
Delcídio diz que conversou com o ex-presidente na sede do Instituto Lula sobre a situação do pecuarista e a necessidade de evitar que ele caísse na Lava Jato. “O depoente pode dizer que o pedido de Lula para auxiliar Bumlai no contexto de ‘segurar’ as delações de Cerveró certamente visaria ao silêncio deste último e o custeio financeiro de sua respectiva família, fato que era de interesse de Lula”, registra a PGR na transcrição.
Nos depoimentos, Delcídio dá detalhes do envolvimento de Lula com o pecuarista. Segundo ele, Bumlai teria ficado responsável, num primeiro momento, pelas obras no sítio em Atibaia que Lula frequenta. O senador contou que amigos do ex-presidente se referiam à propriedade como “sítio do Lula”.
As reformas ficaram a cargo da empreiteira OAS. Mensalão. Delcídio afirmou também que o ex-presidente e o ex-ministro Antonio Palocci atuaram para comprar o silêncio do operador do mensalão, Marcos Valério Fernandes.
A negociação teria custado entre R$ 110 milhões e R$ 220 milhões, possivelmente pagos por empreiteiras do esquema de corrupção na Petrobrás. “Havia conversas muito fortes ao longodacampanhade2008 (disputa municipal) de que os pagamentos estavam sendo por (para) Marcos Valério no exterior, em suas contas ou de terceiros”, relatou o senador.
O ex-ministro Palocci esclareceu, em nota, que vinha a público “para desmentir e repudiar, com veemência e indignação, as falsas informações contidas nos termos da delação”. Em outro trecho da delação, Delcídio contou que Lula o procurou para tentar evitar a convocação do lobista Mauro Marcondes Machado e de sua esposa, Cristina Mautoni, na CPI do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). O casal está preso e é réu na Operação Zelotes, que investiga a compra de medidas provisórias.
Investigadores apuram o pagamento de R$2,5milhões feito pela consultoria de Marcondes à empresa de Luís Cláudio Lula da Silva, um dos filhos de Lula. Em nota, o Instituto Lula alegou que “não comenta falatórios”. “Quem quiser levantar suspeitas em relação ao ex-presidente, que o faça diretamente e apresente provas, ou não merecerá resposta. ”O advogado de Bumlai, Arnaldo Malheiros, afirmou que “ele sempre negou enfaticamente as acusações”. /
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