Além da economia, submetida a autêntica devastação por efeito dos erros e abusos do governo Dilma Rousseff (PT), outro núcleo estratégico em que a mudança da gestão federal se mostra bem-vinda é o das relações exteriores.
Nos 13 anos de administração petista, o governo declarou-se empenhado numa diplomacia ativa e independente. Houve momentos em que de fato se aproximou desse objetivo, o que foi reconhecido nestas colunas.
Quase sempre, porém, aquela orientação tinha muito de seletivo, de forma que a uma hostilidade automática em face de parceiros relevantes e aliados tradicionais, como os EUA, correspondia uma tolerância que raiava a subserviência perante autocracias como as do Irã, de Cuba e da Venezuela.
Sempre se soube que os governos do PT, para compensar as muitas concessões que Lula e Dilma fizeram à direita no âmbito doméstico, manobravam a política externa (não raro em prejuízo do que seria melhor para o interesse nacional) com a finalidade paroquial de aplacar as alas esquerdistas.
Tudo indica, porém, que as aparências ideológicas camuflavam algo pior. Como vem sendo ressaltado nas investigações judiciais em curso, as preferências diplomáticas com frequência correspondiam a projetos no exterior de grandes empresas brasileiras, as quais financiavam os custos do partido, nem sempre de modo legítimo.
Depois de um início auspicioso, a diplomacia do governo Dilma Rousseff também decepcionou, mostrando-se uma versão pálida e desprovida de carisma das mesmas deformações que haviam marcado o trêfego ativismo externo de seu antecessor.
O chanceler José Serra anuncia agora o propósito de manter o prumo de uma diplomacia independente, mas escoimada da distorção antiocidental. Pretende adotar, noutra inflexão tardia e necessária, diretriz pragmática voltada a atrair investimentos e explorar oportunidades comerciais e tecnológicas.
Flexibilizar as amarras do Mercosul; deslocar a ênfase dos emperrados mecanismos multilaterais para uma proliferação de acordos bilaterais de comércio; utilizar o ativo brasileiro que é a biodiversidade de modo a colocar o país na vanguarda da reforma ambiental –as diretrizes enunciadas vão na direção certa.
Trata-se de restaurar os melhores valores do Itamaraty –em que o apoio à autodeterminação dos povos e à solução pacífica dos conflitos se combina a uma discreta, mas atenta simpatia pelos direitos civis e humanos–, conferindo a sua consecução mais equidistância, eficiência e pragmatismo.
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