Não é aceitável o nível de tensão demonstrado pela manifestação de ontem em Brasília, como se não houvesse saída para a crise, quando ela existe: seguir a Constituição
Fogo e fumaça na Esplanada dos Ministérios e troca de empurrões no plenário da Câmara ilustram o dia de ontem em Brasília e alertam para a necessidade da redução da tensão política a níveis administráveis. A convocação de tropas federais, por meio da emissão de uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO) pelo presidente Temer, a fim de controlar a violência para a qual descambou a manifestação convocada contra ele e as reformas na Esplanada, reflete o descontrole do que aconteceu ontem em Brasília. Mais um motivo para se combaterem as tensões.
A forma indicada para isso é, como sempre, seguir Constituição e leis. As dificuldades no campo político são grandes, com um presidente sob suspeição e em processo de erosão, e por isso mesmo não se pode fugir do roteiro legal. Nada, portanto, de jeitinhos e heterodoxias, como a antecipação das eleições de 2018, por exemplo.
A Carta fixa balizamentos para tudo — impeachment e outros tipos de vacâncias. Resta seguilos. Dúvidas ou conflitos, o Supremo Tribunal deve e pode resolvê-los, a exemplo do que aconteceu com o ritual do impedimento de Dilma Rousseff.
O país volta a estar numa pinguela, que, até onde a vista enxerga, o leva ao julgamento da chapa Dilma-Temer, no início de junho, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em processo aberto a pedido do PSDB com a denúncia, bem fundamentada, de uso de dinheiro ilegal na campanha de 2014 dos candidatos do PT e PMDB. À medida que foram avançando as delações da Odebrecht na Lava-Jato, a acusação ganhou grande solidez.
Há, portanto, alguma previsibilidade na crise. Se os prognósticos atuais se confirmarem, há uma alternativa de saída mais à frente, na retomada deste julgamento, em 6 de junho. Inexiste razão, portanto, para salvacionismos e invencionices.
Mas cabe a todos com alguma responsabilidade na vida pública cuidar para que este curto período em dias, mas longo do ponto de vista institucional, seja enfrentado com serenidade e absoluto respeito às leis.
Minorias não podem transformar as ruas em estopim de desordem que ponha a vida de pessoas em risco e destrua o patrimônio público. É preciso, também, resistir a oportunistas que se aproveitam da situação para impedir, em nome de corporações privilegiadas, a realização das reformas previdenciária e de leis trabalhistas, entre outras.
Elas precisam continuar a tramitar, o que é defendido, com razão, pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Paralisá-las é se curvar ao que deseja uma oposição minoritária e barulhenta no Congresso.
Há dez dias, os prognósticos para a economia eram otimistas, e, com todo o rebuliço causado de quarta para quinta, com a revelação pelo GLOBO da conversa entre Temer e Joesley, as expectativas do mercado, apuradas na sexta, não foram negativas. Há, então, algum lastro na economia que pode sustentar a travessia desta pinguela.
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