- Folha de S. Paulo
Segundo o juiz Sergio Moro, seria apenas um "ato banal". Não foi bem isso, no entanto, o que se viu nesta quarta-feira em Curitiba. O depoimento de Lula durou quase cinco horas, mobilizou um exército de 1.700 policiais, interditou quarteirões inteiros e dividiu a capital paranaense em duas cidades.
De um lado, manifestantes de vermelho repetiam palavras de ordem em defesa do ex-presidente. Do outro, militantes em verde e amarelo gritavam o nome de Moro e agitavam um boneco inflável do petista com uniforme de presidiário. Parecia uma viagem no tempo de volta aos dias mais quentes da batalha do impeachment. Até a ex-presidente Dilma Rousseff reapareceu, desta vez para apoiar o padrinho político.
Enquanto Curitiba vivia a tensão do depoimento, Brasília assistia a cenas de bate-boca no Congresso. No plenário da Câmara, deputados do PT e do PSDB trocaram insultos. "Lave a boca para falar do presidente Lula!", berrou o petista João Daniel. "Lave a sua!", devolveu o tucano João Gualberto. "Mafioso", "bandido", "canalha" e "ladrão" foram outros termos gritados ao microfone.
A situação chegou ao ponto de um rottweiler da bancada da bala, o deputado-policial Alberto Fraga, pedir moderação aos colegas. "Daqui a alguns dias, vai vencer quem sair no tapa com o outro", avisou.
Em Curitiba, Lula negou as acusações e se declarou vítima da "maior caçada jurídica" que um político brasileiro já sofreu. Moro disse não ter "desavença pessoal" com o petista e prometeu decidir com base na lei.
Não há quem acredite que o ex-presidente será absolvido em todos os processos da Lava Jato. A questão é saber se ele conseguirá evitar uma condenação em segunda instância, que o tiraria da eleição de 2018.
Embora Moro tenha dito que o encontro não seria "um confronto", este foi o tom do fim da sessão. Juiz e réu trocaram acusações pelos ataques que têm recebido. O depoimento acabou, mas o embate vai continuar.
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