André Guilherme Vieira | - Valor Econômico
CURITIBA, BRASÍLIA E SÃO PAULO - Durante interrogatório de cinco horas prestado ao juiz Sergio Moro, o ex-presidente Lula confirmou encontro com o ex-diretor da Petrobras Renato Duque no hangar do aeroporto de Congonhas, em São Paulo. No encontro, perguntou sobre a existência de contas no exterior. O ex-presidente disse que procurou Duque por causa de "boatos de corrupção na Petrobras" envolvendo o ex-gerente da estatal. Em sua versão, Duque dissera que recebeu orientação do ex-presidente para fechar contas no exterior.
Lula também negou que tenha orientado o empresário Leo Pinheiro, da OAS, a destruir provas de propina. "Isso nunca aconteceu e nunca vai acontecer", sustentou, ao ser questionado por Moro. O ex-presidente ainda atribuiu à sua mulher, Marisa Letícia, morta em fevereiro, o interesse na aquisição do tríplex reformado pela OAS no Guarujá (SP). Afirmou que só visitou o imóvel uma vez e que Marisa foi uma segunda vez, mas ele só soube disso posteriormente.
Marisa Letícia teria agido sem conhecimento do marido
No interrogatório realizado ontem pelo juiz Sergio Moro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se contradisse em relação ao que falou à Polícia Federal (PF) durante sua condução coercitiva, realizada em março de 2016, e atribuiu à sua mulher, Marisa Letícia (morta em fevereiro), o interesse pela aquisição do tríplex reformado pela OAS no Guarujá (SP).
Lula relatou a Moro que visitou o imóvel uma única vez, em fevereiro de 2014, juntamente com sua mulher e com o então presidente da OAS, José Adelmário Pinheiro, o 'Léo' Pinheiro. O ex-presidente disse "me parece que a minha esposa esteve mais uma vez" no apartamento, em agosto de 2014.
Questionado pelo juiz se em algum momento Marisa Letícia havia se decidido por não ficar com o imóvel, Lula respondeu: "não, não discutiu isso comigo mais, não discutiu".
Moro então indagou se Lula soube, depois da segunda visita feita ao imóvel por ela, se a ex-primeira-dama acabou resolvendo ficar com o tríplex. O petista, no entanto, afirmou não ter sabido da segunda visita de sua mulher ao apartamento. "Eu fiquei sabendo depois que ela tinha ido ao apartamento e que também não tinha interesse em comprar", disse.
"Quando o senhor ficou sabendo [da visita]?", perguntou o magistrado. "Um dia. Não foi no mês de agosto, não foi no dia que ela foi. Foi depois. Difícil precisar agora, se foi 10, 15, 20 dias depois", respondeu Lula.
Foi então que Moro confrontou Lula, apontando contradição com a declaração prestada pelo ex-presidente à PF. "Eu disse exatamente as duas coisas, tanto no primeiro depoimento como agora, a mesma coisa. É difícil se não estou lendo, repetir as mesmas palavras". Lula falou que apontou os defeitos que deveriam ser reparados no apartamento e que Leo Pinheiro teria dito que faria uma proposta. "Nunca mais eu conversei com o Leo sobre o apartamento", disse Lula.
Moro insistiu e perguntou se tal proposta envolveria uma reforma no imóvel. "Eu não sei qual era a proposta, ele disse que ia fazer uma proposta. Não me disse de fazer reforma", respondeu Lula.
Em certo momento, o ex-presidente disse ao juiz que nem sempre as mulheres perguntam aos maridos a opinião deles sobre decisões que pretendem tomar.
"Não sei se o senhor tem mulher. Nem sempre elas (sic) pergunta pra gente o que vão fazer".
Quando Moro abordou o fato de a OAS ter declarado, em 2011, que todas as unidades do prédio tinham sido vendidas, e uma nova unidade "para novo adquirente", ele perguntou a Lula por que a empresa fez tal declaração se ele não havia feito a opção de compra.
"Então eles devem ter vendido o apartamento sem falar com a dona Marisa", respondeu o petista.
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