‘Não solicitei, não recebi e não paguei (o imóvel)’
Ex-presidente diz que não soube de propinas
Petista afirma ser vítima de perseguição
Réu em cinco processos, o ex-presidente Lula depôs ontem pela primeira vez ao juiz Sergio Moro, da Lava-Jato, e negou as acusações de que teria recebido propina da OAS na forma de reserva do tríplex no Guarujá. O petista atribuiu à mulher, dona Marisa, morta em fevereiro, o interesse e as decisões sobre o imóvel. No depoimento de mais de cinco horas no processo do tríplex, Lula também negou ter tido conhecimento de corrupção na Petrobras, mas admitiu ter se encontrado com o ex-diretor da estatal Renato Duque e perguntado se ele tinha contas no exterior. O ex-presidente afirmou ter feito a pergunta porque ouvira “boatos de que estavam roubando dinheiro” na estatal, e o executivo — que já disse ao juiz que Lula comandava o esquema — era indicado pelo PT.
A versão de Lula
Ex-presidente diz que Marisa negociou tríplex e admite pergunta a Duque sobre contas
- O Globo
Em seu primeiro depoimento ao juiz Sergio Moro em mais de três anos de Operação Lava-Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu à mulher, Marisa Letícia (morta em fevereiro deste ano), toda a negociação sobre o tríplex no Guarujá, no litoral de São Paulo — apartamento que o Ministério Público diz que ele recebeu da empreiteira OAS como parte do esquema de corrupção na Petrobras durante o seu governo. O petista negou que seja o dono do imóvel, que teria “500 defeitos”, e disse que se recusou a comprá-lo.
De gravata verde-amarela e nervoso no início do depoimento, Lula confirmou que perguntou ao ex-diretor da Petrobras Renato Duque se ele tinha alguma conta secreta no exterior. A informação foi dada pelo ex-executivo da estatal, que tenta fechar um acordo de delação premiada, em depoimento a Moro na semana passada. O ex-presidente, no entanto, disse que fez a pergunta porque “tinha muito boato de que estava sendo roubado dinheiro” da empresa e porque Duque havia sido indicado pelo PT — Lula diz que ele negou ter conta.
O depoimento de ontem foi em uma das cinco ações em que o petista é réu perante a Justiça (veja todos os casos no quadro nesta página). Moro, a quem a militância petista acusa de “perseguição” a Lula, afirmou ao ex-presidente não ter “nenhuma desavença pessoal” com ele. No início da audiência, o tranquilizou, dizendo que não iria prendêlo. Lula voltou a atacar a Lava-Jato: “Considero o processo ilegítimo e a denúncia uma farsa”, disse, afirmando ter “muitas ressalvas com o comportamento dos procuradores da Lava-Jato”.
Lula chegou a Curitiba na manhã de ontem, em jatinho de seu ex-ministro Walfrido dos Mares Guia, que chegou a ser envolvido no chamado mensalão tucano. Durante todo o dia, manifestantes a favor do petista se reuniram na capital paranaense para acompanhar o depoimento. Ao todo, cerca de sete mil pessoas foram de ônibus à cidade — à noite, o ex-presidente saiu do depoimento e foi ao encontro dos militantes para um comício: “Nunca antes na História deste país alguém foi tão massacrado quanto eu”, discursou.
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