Por Cristian Klein e Vandson Lima | Valor Econômico
RIO E DE BRASÍLIA - Com seu eleitorado e o do PSDB sendo abocanhado pelo concorrente da extrema-direita Jair Bolsonaro (PSL), o pré-candidato à Presidência e ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin lançou ontem as diretrizes de seu plano de governo para a segurança pública, no Rio de Janeiro, Estado submetido a intervenção federal e reduto de Bolsonaro.
O tucano evitou comparar diretamente suas propostas com as do deputado federal e ex-capitão do Exército, que faz da segurança pública um dos carros-chefes da pré-campanha eleitoral. Mas buscou delimitar semelhanças e diferenças com o adversário. Depois de anunciar as diretrizes para a segurança pública, em apresentação num salão esvaziado, na Tijuca, zona norte do Rio, à imprensa, Alckmin se reuniu com o general e interventor Walter Braga Netto, na sede do Comando Militar do Leste. O aceno aos militares o aproxima do perfil de Bolsonaro e está presente em algumas propostas do tucano.
O ex-governador defendeu a criação de uma Guarda Nacional "própria e permanente", cujo efetivo seria formado por egressos do serviço militar obrigatório. Alckmin disse que a Guarda Nacional seria diferente da atual Força Nacional, que retira policiais das forças de segurança dos Estados. "Ela poderá ser inclusive formada com aqueles que saem do serviço militar, o que poderá ajudar os Estados na questão do patrulhamento preventivo das chamadas áreas rurais", disse.
Em mais uma semelhança com Bolsonaro, Alckmin defendeu atenção especial à zona rural, e justificou mencionando o crescimento do agronegócio. "Há tecnologia cara, em áreas ermas, e você não encontra polícia, não tem 190", disse. O tucano lembrou do isolamento do campo, por experiência própria, quando seu pai, antes um militar, passou a trabalhar como veterinário especializado em peixes numa fazenda. O ex-governador propôs ainda o porte de armas para quem mora no campo, assim como já fez Bolsonaro.
Ao mesmo tempo, Alckmin marcou diferenças em relação ao adversário. Em vez da redução da maioridade penal, sugeriu o aumento do limite do tempo de internação de três anos para oito anos, nos casos de menores de idade que cometem crimes hediondos, proposta de lei que já tramita no Congresso Nacional. "Com isso não precisa mexer na Constituição, pois alguém pode falar 'Ah, mas isso é cláusula pétrea'. Vai ficar numa discussão enorme."
Outra proposta do tucano é a de aumentar a pena para adultos que usam menores de idade em crimes. "De um lado, acreditamos na recuperação do jovem, precisamos estender a mão a esse jovem, especialmente na questão das drogas, levar o programa Recomeço para todo o país. Por outro lado, ação firme no combate à criminalidade", disse.
Parado nas pesquisas eleitorais, com menos de 10% das preferências, o tucano evitou comentar as informações de que estaria sendo pressionado por correligionários para melhorar sua coordenação política nos Estados. Alckmin negou que tenha se irritado e jogado seu guardanapo na mesa, em jantar na segunda-feira, quando teria sido criticado pelos aliados. "Nada, imagina", disse, esquivando-se, sobre o episódio.
O Rio é um exemplo de Estado onde os tucanos ainda não têm palanque a governador. Questionado sobre quem será seu candidato no Rio, afirmou: "Estou querendo saber também". Entre as possibilidades mais cotadas está a candidatura do ex-prefeito Eduardo Paes, cujo partido, o DEM, mantém a pré-candidatura ao Planalto do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. O DEM, em paralelo, articula um novo nome com um grupo de partidos do Centrão e resiste em apoiar o PSDB.
À noite, em Brasília, onde participou de sabatina do jornal "Correio Braziliense", Alckmin admitiu que a dificuldade em subir nas pesquisas tem gerado embate dentro do tucanato. "Em todo partido grande, tem divergência."
O tucano avaliou, contudo, que não considera ruins os índices colhidos até o momento. "A campanha vai começar em 20 de julho. Começar com 7%, 8% é ótimo. Não disputo eleição presidencial há 12 anos".
Ao falar a repórteres após a sabatina, Alckmin negou que haja qualquer possibilidade de ele não ser o candidato do PSDB à Presidência em outubro. "Isso não existe. Preciso estar vivo, né [para ser candidato]?", ironizou.
Alckmin afirmou que, se eleito, trabalhará para acabar com o déficit primário até fins de 2020. Disse que estimulará privatizações, concessões e PPP's, mas que haverá cuidado ao se tratar das atividades da Petrobras. O pré-candidato criticou a concentração bancária. "Banco, por exemplo, está muito concentrado. Precisamos ter mais players, mais disputa. Vou estimular cooperativas de crédito, fintechs".
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