- Valor Econômico
Conflito mineiro: Anastasia não vetou mas não apoiou
Aldo Rebelo, pré-candidato a Presidente da República pelo Solidariedade, com uma campanha estruturada no contato com sindicatos e outras representações de trabalhadores e empresários, está hoje no que seria o primeiro lugar entre as opções de candidato a vice-presidente na chapa do candidato a presidente Geraldo Alckmin (PSDB). Não foi a primeira vez que o ex-presidente da Câmara e ex-ministro de Lula e de Dilma, em quatro pastas diferentes, liderou esse ranking, com apoio de todos os partidos do Centrão. Mas agora deve ser o momento em que a opção por ele ficou mais perto de definir-se.
Pois o empresário mineiro Josué Alencar não será candidato a vice-presidente na chapa de Alckmin, como pareceu uma realidade concreta na movimentação recente de ambos os personagens.
Há dois dias, antes mesmo do encontro do empresário mineiro com o ex-governador, em São Paulo, para o que seria a negociação da vice, Aldo já devia estar vivendo um alerta de sobreaviso. Os escolados políticos do Centrão já sabiam, desde o fim de semana, o que o PT inteiro estava também cansado de saber: Josué não teria a menor condição de abandonar suas ligações com Lula, Fernando Pimentel e o PT para ficar ao lado dos principais adversários históricos de todos eles. E Alckmin não teria condições de abandonar o PSDB mineiro para ficar com Josué.
O encontro dos dois, na segunda -feira, foi uma espécie de aperto de mão de entrada e de saída. Ambos sabiam que a negociação não iria adiante, mas era preciso haver um encontro daquele tipo para que os gestos não ficassem mais inexplicáveis do que ficaram.
O PR, partido ao qual Josué se filiou por determinação do ex-presidente Lula, pode até aliar-se a Alckmin, mas isso nada tem a ver com Josué e para onde ele vai ou deixa de ir. Josué não é PR no sentido de representar o partido em negociações políticas. Josué representa Josué, e, se quiserem um partido, ele representa o PT. Parte do Centrão, do qual teoricamente faz parte, aproveitou o episódio do falso vai-e-vem para criticar duramente Josué: "Os empresários que cresceram à sombra de incentivos fiscais são dúbios e inseguros", disse um dos mais importantes articuladores da chapa.
Quando foi para a legenda de Valdemar Costa Neto, causando espanto pela aparente incompatibilidade, tinha um roteiro a cumprir. Os planos do ex-presidente Lula, à época executados por José Dirceu, incluiam uma candidatura de Josué a vice na sua chapa para ser o candidato a presidente quando a Justiça Eleitoral impugnasse o seu nome, um revés há muito esperado. Ou, mesmo, para ser o candidato a presidente com apoio do PT que, no entanto, desde logo recusou a oferta.
A derrocada do projeto não impediu que Josué continuasse ligadissimo a Lula e ao governador mineiro Fernando Pimentel. Com a prisão de Lula, seu elo mais forte passou a ser o governador, agora candidato à reeleição, cuja chapa compôs em 2014 como candidato ao Senado Federal, ainda à época filiado ao PMDB.
E com quem Josué concorreu à vaga (era apenas uma) ao Senado colocada à disposição naquele ano em que Aécio Neves disputou com Dilma Rousseff a presidência e perdeu feio em Minas Gerais, até então sólido colégio eleitoral tucano? Com o atual candidato a governador de Minas e concorrente de Pimentel, Antonio Anastasia (PSDB).
Foi uma campanha acirrada, radicalizada, ocorrida há apenas 4 anos, ainda com fissuras vivas, em que houve um empenho extraordinário do PT em derrotar Aécio no seu reduto eleitoral. E o neto de Tancredo Neves, à época, não era o bicho-papão de hoje, deformidade em que o transformou a conversa gravada por Joesley Batista no ano passado.
Para um ex-governador como era Anastasia, com instrumentos do poder ainda em mãos, vencer por estreita margem deixou sequelas. Anastasia ganhou a vaga de senador com 56,73% dos votos, cerca de 5,1 milhões de eleitores o escolheram; Josué Alencar ficou com 40,18% dos votos, ou 3,6 milhões, uma votação forte para um iniciante. A candidata do PSB teve 2,14% dos votos e os demais quatro concorrentes não chegaram a 1%.
Desde aquela campanha - Josué disputou o Senado na chapa de Pimentel, numa aliança do PMDB com o PT, repetindo a dobradinha nacional Dilma-Temer- que as forças políticas em Minas se fecharam em dois grupos de rivalidade nítida. Como Alckmin poderia agora fortalecer uma liderança em Minas Gerais contra o Anastasia, perguntavam-se os conflituados tucanos mineiros.
Anastasia não vetou Josué, dizem, mas certamente não foi de satisfação sua reação, transmitida à cúpula partidária pelo PSDB do Estado.
A aproximação do seu adversário em Minas do candidato a presidente do seu partido transformaria a campanha de Anastasia para o governo de Minas, este ano, em uma esquisitice. Dessas que tornam a disputa eleitoral no Brasil, com a salada partidária, um monstrengo administrado com alguma naturalidade, mas inaceitável para um político-técnico rigoroso como Anastasia, cuja fragilidade, com tal chapa nacional, saltaria à frente na campanha.
Quem conhece de perto o senador por Minas diz que não é do seu feitio dar ultimatos, portanto não teria ameaçado abandonar a candidatura a governador caso a chapa do PSDB fosse Alckmin-Josué. O que não impediu que o conflito de Minas chegasse tanto a Alckmin quanto a Josué.
A perplexidade de Anastasia foi propagada a Alckmin e a Josué pelos próprios mineiros de um lado e de outro, transformando o encontro de segunda-feira numa cena para não decidir nada e, de fato, não decidiu.
Para Josué também não seria bonito ser considerado um traidor do PT, ou pior, de Lula, que o colocou no PR, tirando-o do PMDB, para ser ator dos planos do PT, fossem quais fossem, e não dos rivais do PSDB. A ligação dele com Lula e Pimentel pesou no desfecho. Brigar para quê se a disputa está em torno de um objeto que nenhuma das partes deseja?
Nem Josué quer juntar-se ao PSDB, nem o PSDB quer juntar-se a Josué.
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