- O Estado de S.Paulo
Analistas não parecem ainda ter contabilizado integralmente o enorme impacto que a incerteza em relação ao desfecho das eleições está exercendo sobre empresários e consumidores
A sensação que se tem da economia brasileira é de que está tudo parado: a atividade econômica vem perdendo fôlego visivelmente ao longo deste ano, mas o mais preocupante é que as projeções dos analistas do mercado financeiro para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, embora tenham passado por sucessivas revisões para baixo, ainda parecem um tanto otimistas.
E por que isso? Uma das razões é que os analistas das instituições financeiras não parecem ainda ter contabilizado integralmente o enorme impacto que a elevada incerteza em relação ao desfecho das eleições presidenciais está exercendo sobre empresários e consumidores, afetando o investimento e o consumo.
Essa incerteza eleitoral já seria danosa por si só, mas seu impacto vem sendo exacerbado pelo ambiente externo bastante adverso aos países emergentes, haja vista a desvalorização forte de moedas da Argentina, Turquia e África do Sul, forçando os bancos centrais desses países a elevar as taxas de juros. Na Argentina, por exemplo, o BC elevou os juros básicos para 60%, agravando a preocupação de recessão na economia argentina. Quanto do efeito dessa turbulência está incluído nas projeções do PIB brasileiro?
Na mais recente pesquisa Focus, do BC, as estimativas apontam para um crescimento de 1,44% do PIB em 2018. Na primeira pesquisa divulgada em janeiro deste ano, essa projeção era de um crescimento de 3,96% em 2018.
Na semana passada, o IBGE divulgou o PIB do segundo trimestre deste ano, que cresceu apenas 0,2% em relação ao primeiro trimestre, refletindo, entre outros fatores, os efeitos na economia da greve dos caminhoneiros em maio. Esse resultado foi até levemente melhor do que os analistas projetavam, que era de uma expansão de 0,1%, porém o que preocupou foi o fato de que o IBGE revisou significativamente para baixo o PIB do primeiro trimestre deste ano. O crescimento da economia nos três primeiros meses de 2018 foi revisado de +0,4% para apenas +0,1%, na leitura final.
Nos últimos meses, a incerteza eleitoral vem se tornando mais aguda, turvando o horizonte de empresários, consumidores e investidores. O candidato favorito do mercado financeiro e de boa parte do empresariado, o tucano Geraldo Alckmin, não consegue decolar nas pesquisas de intenção de voto.
Na liderança dessas pesquisas ainda está o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está inelegível pela Lei da Ficha Limpa e cujo registro de candidatura foi rejeitado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na sexta-feira.
Mais ainda: os candidatos posicionados nas pesquisas com chances de ir ao segundo turno não são considerados pelos investidores como reformistas por convicção, ou seja, que espontaneamente levariam adiante a aprovação de reformas estruturais necessárias para pôr as finanças públicas em ordem, como a da Previdência.
Jair Bolsonaro (PSL), líder das pesquisas no cenário sem o ex-presidente Lula, se diz comprometido com as reformas, mas há desconfiança de grande parte do mercado em relação à capacidade dele de implementá-las, dada a sua frágil articulação política e base de apoio.
Para os investidores, Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) não abraçariam as reformas estruturais necessárias. E isso vale também para Fernando Haddad, caso ele venha substituir Lula como candidato do PT.
Essa forte incerteza entre os agentes econômicos permanece mesmo com a corrida já se encontrando na primeira semana de propaganda eleitoral na TV. Ninguém consegue prever, na fotografia de hoje, quem passará para o segundo turno.
E isso acontece porque, nesta eleição, a história eleitoral não está sendo um bom parâmetro para guiar os investidores quanto ao desfecho do pleito presidencial, pois o candidato com maior tempo de TV e número de coligações partidárias permitindo uma capilaridade suficiente para atingir eleitores em todos os Estados – Geraldo Alckmin –, desta vez, ainda está distante de chegar ao segundo turno. E os investidores desconfiam que até o chamado voto útil possa não funcionar nesta eleição.
Assim, sem bússola para prever o desfecho eleitoral, quem se atreve a investir ou a comprometer a renda num prazo mais longo? O risco não é só para o PIB deste ano, mas também para o de 2019, cuja projeção do mercado é de 2,50%. Mas esse crescimento esperado no que vem só acontecerá se o vencedor da eleição for um candidato comprometido com as reformas.
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