- O Estado de S.Paulo
A vitória do reformismo traria de volta certo crescimento, e relativamente rápido
Todos que acompanham o nosso dia a dia sabem que as marcas deste ano estão sendo a surpresa e a incerteza. Conflitos comerciais que atravessam o globo, greve dos caminhoneiros e a enorme incerteza política acabaram por produzir uma redução nas perspectivas de crescimento.
Abrimos o ano já com alguma desaceleração em relação a 2017, mas os fatores acima mencionados levaram a uma piora no desempenho e nas projeções para o ano. Embora seja claramente positivo que a atividade tenha voltado a crescer após a greve, o crescimento do corrente exercício será modesto (1,5% no máximo).
Assim, a pergunta central que se faz é se existe possibilidade de, findo o processo eleitoral, voltarmos a ter melhoras em 2019.
Uma primeira parte da resposta é, para mim, muito clara: esta campanha caracteriza-se por um embate entre reformistas e populistas, sendo que a novidade deste ano é a emergência de um populismo rombudo de direita. Isso porque a eventual vitória de uma das propostas populistas irá produzir, inequivocamente, uma piora significativa nas principais variáveis econômicas. No curto prazo, no caso da esquerda, e um pouco mais adiante se for a direita.
Entretanto, acredito que a vitória do reformismo poderá trazer de volta certo crescimento, e relativamente rápido. Analisemos por quê.
Contados os votos, veremos uma rápida melhora nas expectativas e uma queda bastante forte na cotação do dólar frente ao real. Projetar essa variável é sempre uma tarefa inglória, mas não é exagero imaginar um número da ordem de R$ 3,60 por dólar.
Com isso, os efeitos secundários da desvalorização cambial vão desaparecer, e a inflação irá se consolidar no patamar dos 4%, que resultará na manutenção da Selic na faixa atual (6,5%) por alguns meses, pelo menos.
Além disso, o alívio do resultado das eleições vai destravar vários gastos empresariais no curto prazo. Muita gente tem planos que dependem apenas do cenário político e que seriam postos em marcha.
Não falo de grandes projetos (exceto no caso de petróleo), mas do lançamento de novos produtos, campanhas de marketing, maior expectativa de vendas para a temporada de Natal e outros. Por exemplo, a demanda de caminhões, que vinha crescendo desde o início do ano, se acelerou após a greve de maio, uma vez que muitas empresas decidiram remontar um departamento interno de transportes. A despeito disso, novas encomendas só estarão sendo atendidas a partir do ano que vem, porque as montadoras estão hesitando em adicionar um novo turno nas linhas de produção, algo que ocorreria nesta nova situação.
Embora essa melhora não deva alterar substancialmente a projeção do crescimento para 2018, o resultado é que viraremos o ano olhando para cima e não para baixo.
Aí vem o jogo principal, o da agenda das reformas. Aqui está em questão o número de propostas e seu desenho.
Em muitos casos, a estrutura dos projetos é bastante clara, como a criação do Imposto de Valor Adicionado (IVA) em substituição a IPI, ICMS, ISS, PIS e Cofins, ou a unificação dos regimes de aposentadoria e a elevação da idade mínima para requerer o benefício.
Daí porque a grande dúvida é a chance de aprovação das reformas. A experiência desde o primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso é que, se o Executivo se fixar em um número pequeno de projetos, mas intensamente defendidos pelo novo presidente, sua aprovação é possível, embora nunca seja simples. É a estratégia de “poucas e boas”.
Se isso ocorrer como me parece possível, o caminho estará aberto para a retomada de um crescimento mais sustentável, embora ainda inferior ao necessário e possível para o Brasil.
Terceirização. O STF considerou constitucional a terceirização, tanto de atividades meio, quanto de atividades fim, assim como já havia feito ao validar o término do imposto sindical. É mais um exemplo da resistência à mudança por parte de corporações e cartórios. Entretanto, nesse caso, as coisas estão caminhando bem e já é possível dizer que a Reforma Trabalhista tem contribuído de forma decisiva para a redução do conflito, em favor de negociações.
Privatização. Elena Landau lembrou na coluna de sexta-feira que qualquer privatização bem feita demora muito. Tendo participado de muitos processos, de 1993 a 1998, não posso estar mais de acordo. E isso inclui a venda de imóveis públicos.
É um exercício fútil imaginar que se possa arrecadar trilhões em pouco tempo. Ou falta de experiência de como funciona o setor público.
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* Economista
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