Partido deveria procurar saber por que não conseguiu formar um bloco em defesa da democracia
A proposta de uma “frente democrática”, lançada pelo PT para atrair apoios no enfrentamento de Bolsonaro no segundo turno, tem lógica formal. Se o adversário é considerado de extrema direita, todos que não o sejam devem se unir para enfrentá-lo. Mas não deu certo.
Antes de tudo porque o PT disseminou desde sempre fundadas desconfianças de que seja de fato um partido democrático. A começar pelo próprio funcionamento interno. Pois há nele uma transparente e sólida estrutura vertical, cujo único vértice é Lula, a quem todos devem obediência, se tiverem juízo.
A mais recente demonstração do “centralismo democrático” com que funciona o PT é a absoluta dependência do projeto Fernando Haddad a um Lula preso em Curitiba. Cordão umbilical bem explorado pela campanha do adversário de Haddad.
O comportamento do partido no poder também nunca foi democrático. A abertura ao diálogo sempre foi feita com objetivos eleitorais, na busca da hegemonia sobre a Nação. Este é o fim que também justificou os meios da grossa corrupção nos governos Lula e Dilma, de dimensões que chamaram a atenção do mundo.
Há também inúmeros exemplos sólidos de ações do partido para garrotear liberdades. Algumas para submeter a imprensa e a produção de conteúdos audiovisuais ao crivo de comissários encastelados em aparelhos montados na máquina do Estado.
Por tudo isso, não surpreende que o balão do “pacto democrático” não tenha subido. Aos cambulhões, o partido — claro, com a aquiescência silenciosa de Lula — tem tentado de tudo: até trocou o vermelho pelo verde, amarelo, azul e branco, numa evidente e ingênua obra de fachada; Haddad, que nunca se sentiu confortável no figurino do programa lulista, pôde fazer alguns recuos —na Constituinte chavista, por exemplo —, e já considera que o juiz Sergio Moro fez bem ao país, menos, por óbvio, no caso de Lula.
Mas o fracasso da proposta serve para alertar o partido de que precisa mesmo fazer uma autocrítica formal e pública. A família cearense dos Gomes, Ciro e Cid, é conhecida pela veemência com que faz política. Mas o PT não deveria esquecer as palavras de Cid num evento malsucedido para o partido, porém de muita serventia para militantes e dirigentes. A principal mensagem dada por Cid foi que, sem mea culpa, o futuro da estrela dourada não é brilhante.
No mínimo, como se vê, afasta aliados em potencial. E fica na dependência de eleitores mais pobres. Mas aqueles que já consideram o Bolsa-Família um patrimônio garantido — e com razão —passaram a ser cativados por outro tipo de discurso, o da segurança pública. Tema com o qual o PT e toda a esquerda convivem com dificuldade.
A autocrítica não só é necessária, como tem de ser ampla, incluindo questões éticas, expostas na avidez com que o partido se lançou na corrupção.
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