- Folha de S. Paulo
Opinião pública ignora Temer e seus supostos crimes
O ambiente tempestuoso das eleições obscurece fatos que, até há pouco, seriam encarados como ultraje nacional. Episódios recentes despertam especial perplexidade pelo grau de indiferença com que foram recebidos pela opinião pública, em suas diversas camadas.
A Polícia Federal concluiu nesta semana inquérito sobre propinas no setor portuário e apontou indícios de que o presidente Michel Temer fora beneficiado diretamente com o pagamento de R$ 5,9 milhões.
O emedebista já havia sido denunciado duas vezes pela Procuradoria-Geral da República —ambas acusações barradas pela Câmara— e teve um terceiro inquérito suspenso temporariamente —há evidências de recebimento ilegal de R$ 1,4 milhão. Agora, enfrenta novo indiciamento por prática de crimes como corrupção e organização criminosa.
O relatório produzido pela PF traz elementos adicionais: diálogos embaraçosos entre o atual número dois da PGR e o ex-assessor do Planalto notabilizado por sair correndo com uma mala de R$ 500 mil da JBS. Nos colóquios rastreados, de 2016, Alexandre Camanho e Rodrigo Rocha Loures demonstram proximidade e tratam de nomeações para o ministério no período pré e pós impeachment de Dilma Rousseff.
Camanho é homem de confiança da procuradora-geral da República, Raquel Dodge. A ela caberá denunciar, ou não, o presidente com base na investigação dos portos. Nos bastidores, a inclusão das conversas no documento remetido ao Supremo Tribunal Federal representa instrumento de pressão sobre Dodge.
Temer é um zumbi impopular que habita os palácios federais e carregará por mais dois meses e alguns dias a faixa presidencial. Nos espaços públicos, o emedebista reúne ministros de Estado e advogados para discutir estratégias para sua defesa.
No novo normal, o presidente é só mais um espécime da velha política a caminho da extinção. Há pouco interesse, se ele pagará algum dia, onde quer que esteja, pelos erros que supostamente cometeu.
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