- O Globo
Suspender a eleição, cassar Bolsonaro ou chamar o terceiro colocado, como o PT e também o PDT querem, é fora de propósito
A situação é mais simples do que parece nessa guerra de informações, falsas ou verdadeiras, sobre a suposta —embora plausível —guerrilha ilegal de WhatsApp na campanha presidencial.
O PT está fazendo uma luta política, pois não existe possibilidade de impugnar a candidatura de Bolsonaro neste momento, a oito dias do segundo turno, e é muito difícil provar que houve abuso de poder econômico neste caso.
Não há nenhuma prova para basear o pedido de cassação de Bolsonaro, além da matéria jornalística inconclusiva da “Folha de S.Paulo”. Suspender a eleição, cassar Bolsonaro, ou chamar o terceiro colocado, como o PT e também o PDT querem, é fora de propósito. É preciso uma investigação aprofundada — já aberta pelo TSE —, que demora muito. E a denúncia é de que os torpedos estavam contratados para a última semana de campanha, o que ainda não aconteceu. E não acontecerá, diante da denúncia. Portanto, impossível de comprovar.
Para se ter ideia da impossibilidade, o processo de abuso de poder econômico contra a chapa Dilma/ Temer, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foi aberto pelo PSDB logo depois da proclamação do resultado da eleição de 2014, como manda a legislação. Tramitou por três anos, período em que houve muitas mudanças políticas no país, sob a Operação Lava-Jato, até mesmo o impeachment da presidente, com seu vice, Temer, assumindo o governo.
O PSDB, que queria impugnar a chapa, passou a ser o principal aliado do novo governo, e quem conseguiu impedir que o processo fosse arquivado foi o ministro Gilmar Mendes, que não apenas o reabriu depois que, em outubro de 2015, a então relatora, Maria Thereza de Assis, decidira arquivar a ação, como incluiu nele fatos referentes às investigações da Operação Lava-Jato, inclusive algumas delações premiadas de executivos da empreiteira Odebrecht.
No julgamento, um dos argumentos para absolver a dupla foi que as delações premiadas incluídas no processo não poderiam ser usadas. O relator Herman Benjamin chegou à conclusão de que houve abuso de poder econômico e fraudes na contratação das gráficas fantasmas por parte da chapa Dilma-Temer. Numa das delações premiadas de executivos da empreiteira Odebrecht, foi revelado que a chapa presidencial do PTPMDB recebeu R$ 30 milhões de caixa 2 na campanha de 2014. Essa informação foi confirmada pela delação recente do ex-ministro Antonio Palocci — delações cruzadas que fortalecem a denúncia.
Mas aí o presidente já era Temer, Dilma estava fora do poder, e o interesse no caso era menor. Alegava-se que era necessário manter a estabilidade do novo governo. Em votação apertada, por 4 votos a 3, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) rejeitou a cassação da chapa Dilma-Temer na eleição de 2014. Agora o PT, que sempre acusou a Justiça brasileira de usar rito sumário na condenação do ex-presidente Lula, quer pressa para a decisão do TSE, como se fosse razoável, apenas com suspeitas, interferir na eleição presidencial.
Além do que as acusações que hoje fazem à equipe de Bolsonaro são repetições das que foram feitas contra Dilma na eleição de 2014. A Quick Mobile, uma das empresas que teriam sido contratadas por empresários para turbinar mensagens contra o PT, é de propriedade de Peterson Quirino, ex-sócio da Door2Doors, acusada de campanha idêntica para atacar Aécio Neves em 2014.
E o que dizer do movimento conhecido como MAV, Militância em Ambientes Virtuais? Criado já em 2011, utiliza militantes treinados para atuar na internet, e em outros novos meios de comunicação, segundo orientações partidárias, forjando correntes de opinião favoráveis ao PT. Não é à toa que a PGR abriu processo para investigar as duas candidaturas.
O ex-deputado André Vargas, que ficou famoso ao sentar-se ao lado do ministro Joaquim Barbosa em uma cerimônia na Câmara e erguer o punho como sinal de resistência, ganhou ontem liberdade condicional depois de cumprir parte da pena, condenado três vezes por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Ele era um dos coordenadores do MAV, que tinha como uma de suas especialidades espalhar que o adversário — em 2014, Aécio Neves; em 2018, Bolsonaro — iria acabar com o Bolsa Família. Há um inquérito sigiloso em Brasília sobre as atividades do MAV. Para André Vargas, no tempo em que estava solto e tinha poder: “Guerra de guerrilha na internet é a informação e a contrainformação.”
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