Por Monica Gugliano, Vandson Lima e Malu Delgado | Valor Econômico
BRASÍLIA E SÃO PAULO - Políticos de vários partidos, alguns derrotados nas eleições, articulam união que pode resultar na criação de uma nova legenda, possivelmente de oposição ao governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro. A fragmentação da esquerda e a iminente cisão do PSDB estão acelerando os entendimentos nos bastidores.
As conversas reúnem até ex-adversários, como o governador de São Paulo, Márcio França (PSB), e o presidente da Fiesp, Paulo Skaf (MDB), ambos derrotados por João Doria (PSDB) na disputa pelo governo estadual. Além dos dois, participam das negociações o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), o ex-deputado Aldo Rebelo (Solidariedade), o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e o apresentador Luciano Huck. "As pessoas 'boas' do país estão conversando", disse ao Valor um dos participantes.
Hartung, que anunciou ontem sua desfiliação do MDB, é um dos articuladores das discussões, que reúnem majoritariamente forças do centro progressista e ocorrem em diferentes frentes para a formação, a princípio, de um grupo político e, se a iniciativa for bem-sucedida, de um novo partido. No grupo, coube ao governador capixaba estreitar relações com novos "atores" da política nacional, como Huck e o movimento Renova-BR.
Alckmin e Tasso jantaram na terça-feira na casa do senador, em Brasília, e chegaram à conclusão de que ficará insustentável a permanência no PSDB, caso João Doria tenha êxito na tentativa de assumir o comando do partido e aproximá-lo de Bolsonaro. Em artigo publicado no domingo, Fernando Henrique Cardoso batizou a movimentação em curso de o "centro radical". "A consolidação de um novo movimento requer desde já a pavimentação de alianças, não só no círculo político, mas principalmente na sociedade, para formar um polo aglutinador da construção de um futuro melhor", afirmou o ex-presidente.
Centro avança em conversas sobre reorganização partidária
Forças de centro, em sua maioria derrotadas nas eleições, já se movimentam em busca de espaço no novo cenário político. A fragmentação da esquerda e a iminente cisão do PSDB são circunstâncias políticas que têm acelerado entendimentos nos bastidores. As conversas reúnem até ex-adversários e podem resultar numa das maiores reorganizações partidárias dos últimos tempos. "As pessoas boas do país estão conversando" disse ao Valor, um desses políticos.
Governador do Espírito Santo, Paulo Hartung é um dos articuladores de uma série de conversas que têm ocorrido, em diferentes frentes, para a formação de um novo grupo político - e possivelmente, de um novo partido, que agregaria desde os tucanos Geraldo Alckmin (presidente nacional da sigla) e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) até o atual governador de São Paulo, Márcio França (PSB) e o presidente da Fiesp, Paulo Skaf (MDB), passando pelo secretário da Casa Civil de São Paulo, o ex-deputado Aldo Rebelo (Solidariedade).
Hartung, que anunciou ontem sua saída do MDB, tem estreitado cada vez mais relações com possíveis "novos atores" da política nacional nos próximos anos, como o grupo Renova-BR e o apresentador de televisão Luciano Huck, que seriam os responsáveis por dar uma cara de "nova política" ao grupo, segundo interlocutores.
Alckmin e Tasso, por sua vez, jantaram na terça-feira na casa do senador do Ceará e chegaram à conclusão de que ficará insustentável para eles a permanência no PSDB caso o futuro governador de São Paulo, João Doria, seja bem sucedido em sua busca por tomar o comando partidário e aproximar a sigla do governo de Jair Bolsonaro.
A pior sinalização nesse sentido, avaliam interlocutores, veio ontem, quando os outros dois tucanos eleitos governadores (Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, e Reinaldo Azambuja, do Mato Grosso do Sul) e Doria, que já haviam apoiado Bolsonaro no segundo turno, anunciaram conjuntamente apoio à agenda do presidente eleito.
A insatisfação no PSDB não se encerra apenas em Tasso e Alckmin.Em artigo publicado no domingo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso já deu a senha à movimentação e até a batizou: o centro radical. "Não se trata de esperar sem fazer nada, nem de assumir a posição fácil de criticar tudo o que o governo faça. A possibilidade de se criar um "centro" não amorfo implica tomar partido com base em valores e na razão", argumentou o ex-presidente, defendendo "a formação de um polo aglutinador". "A consolidação de um novo movimento requer desde já a pavimentação de alianças, não só no círculo político, mas principalmente na sociedade, para formar um polo aglutinador da construção de um futuro melhor", disse o tucano.
Segundo um dirigente tucano, a criação de um novo partido é algo que só vai de fato entrar na pauta depois que os partidos que não cumpriram a cláusula de barreira se organizarem no Congresso. Haverá, certamente, fusão de legendas, e é preciso aguardar essa movimentação, disse esta fonte. Todas as conversas, confirmou, caminham, por ora, na aglutinação das forças de centro, seguindo a definição de FHC.
De acordo com um interlocutor do atual governador de São Paulo, França passou a ser uma referência crucial na construção de um novo polo político porque está entre os 5 políticos do Brasil que tiveram mais de 10 milhões de votos: o presidente eleito, Jair Bolsonaro (57 milhões), Fernando Haddad (47 milhões), Ciro Gomes (13 milhões), João Doria (10,9 milhões) e França com, com 10,2 milhões.
Um aliado de França negou que a criação de um novo partido tenha entrado explicitamente na pauta e que, no momento, as conversas buscam identificar um comportamento unificado de várias forças e lideranças, crítico ao governo Bolsonaro, mas não sectário. A Executiva Nacional do PSB, por exemplo, colocou-se na oposição a Bolsonaro, mas fez ressalvas: "As ideias que foram eleitas são diametralmente opostas ao que nós pensamos. Nem por isso iremos nos aliar a uma oposição sistemática. Esse não é o perfil do PSB", afirmou, em nota, a direção do partido.
No campo da esquerda, há uma evidente disputa entre o PT e outro campo liderado por Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede), que nesta semana já se encontram e acenam uma aproximação. A Rede não cumpriu a cláusula de barreira (número mínimo de votos distribuídos em 9 Estados) e estuda a fusão a uma outra legenda para sobreviver politicamente.
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