Apreensão, na Argentina, de arsenal que viria para o Rio mostra que problema ultrapassa fronteiras
A apreensão de cerca de 620 armas na Argentina, no dia 3 de novembro, boa parte destinada a uma facção criminosa do Rio, impressiona não só pelos números robustos. Mas, principalmente, pelo modus operandi das quadrilhas. E fornece pistas valiosas sobre como elas chegam ao Brasil, para armar os traficantes e causar o pandemônio que eleva às alturas os índices de criminalidade. Segundo informou a ministra da Segurança do país vizinho, Patricia Bullrich, integravam o arsenal 340 armas de longo alcance (como rifles, metralhadoras e fuzis AR-15 e AK-47) e 276 pistolas e revólveres, além de 33 mil projéteis de vários calibres.
O arsenal foi descoberto a partir da colaboração do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos com autoridades argentinas. Por conta da realização do G-20, em Mar del Plata, no mês de setembro, setores de inteligência dos EUA passaram a monitorar a movimentação de cargas suspeitas enviadas à América do Sul. Segundo as investigações, as armas partiram de Miami, na Flórida, desmontadas, e foram entregues em quatro cidades argentinas, entre elas a capital, Buenos Aires. Para driblar a fiscalização, bandidos usavam empresas operadas por laranjas e contavam com a conivência de funcionários dos Correios —dois deles acabaram presos.
Foram apreendidos ainda 103 mil dólares e 127 mil pesos argentinos, além de dois carros, quatro motocicletas, uma van e um barco. Autoridades locais suspeitam que outras 52 remessas dos EUA para a Argentina já haviam sido feitas.
A investigação revelou ainda que, embora a maior parte das armas fosse destinada ao Rio, traficantes de várias regiões do Brasil teriam feito um pool para trazer o arsenal. O fato teria ficado evidente porque alguns modelos, como escopetas, não são usados pelas quadrilhas cariocas.
Tudo isso evidencia que a violência que atormenta o país e causa mais de 62 mil mortes por ano, alimentada pelo tráfico de drogas e de armas, se tornou um problema transnacional, impossível de ser combatido no nível dos estados. O que é corroborado por outros episódios. No fim do mês passado, três bandidos ligados a uma facção carioca morreram numa troca de tiros com policiais federais paraguaios na cidade de Presidente Franco, a 300 quilômetros de Assunção. Eles teriam um plano para resgatar o traficante brasileiro Marcelo Piloto, que está preso no país vizinho.
Não é segredo que a guerra de facções do Rio e de São Paulo há muito se estendeu para outros estados e até mesmo para nações vizinhas. Portanto, qualquer política de segurança do presidente eleito Jair Bolsonaro precisa incluir uma efetiva cooperação com governos das Américas, de modo a interceptar os carregamentos de drogas e armas que chegam ao Brasil. Além disso, inteligência, tecnologia e integração entre as diversas forças de segurança são essenciais. Está mais do que claro que não se está lidando com amadores.
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