- Folha de S. Paulo
Trump brasileiro põe à prova a nossa imatura democracia
Jair Bolsonaro já foi chamado de Donald Trump brasileiro. Comparações como essa podem ser arriscadas, mas ele mesmo já declarou que se espelha no presidente norte-americano —de maneira, aliás, um tanto subalterna para nossa tradição diplomática.
Trump, por sua vez, contraria padrões tradicionais que regem (ou regiam) a Presidência de seu país. Comporta-se como uma espécie de irmão do norte do estilo populista da América Latina.
Em janeiro de 2017, Ishaan Tharoor, jornalista do Washington Post, escreveu uma análise sobre o republicano com o título “Trump é o primeiro presidente latino-americano dos EUA”.
Na argumentação, polêmica, citava, entre outros, Diego von Vacano, premiado cientista político de origem boliviana, que dizia o seguinte:
“O populismo, o autoritarismo, o personalismo, o machismo, o racismo e o caudilhismo têm sido historicamente vistos como males quase inerentes à cultura política latino-americana. Com a eleição de Donald Trump, podemos ver agora que os EUA são de fato parte das Américas como um todo e compartilham essas patologias.”
A grande diferença é que lá a sociedade é mais organizada, as instituições mais sólidas e a tradição democrática não encontra parâmetro na região. Ainda que tenha virado moda antever o colapso desse sistema, seus famosos freios e contrapesos têm limitado o personalismo arrogante da Casa Branca.
Bolsonaro deu sinais de que respeitará a Constituição, embora muitos imaginem que seu governo possa ser a antesala de um golpe. Provavelmente não, se pensarmos naqueles golpes do século 20, com blindados e militares de óculos escuros.
Mas não dá para descartar uma escalada autocrática como se observa em alguns países neste século 21. Há muito de índole antidemocrática no bolsonarismo.
Esperemos que a imatura democracia brasileira não se vergue ao nosso simulacro de Donald Trump.
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