- Folha de S. Paulo
Moro expôs de forma convincente a conduta absolutamente antirrepublicana do presidente
Em condições normais, as acusações que o ex-ministro da Justiça Sergio Moro lançou contra o presidente Jair Bolsonaro exigiriam a abertura de um processo de impeachment. A narrativa de Moro traz farto material para investigações não apenas sobre crimes de responsabilidade mas também sobre infrações penais comuns.
Tampouco há dúvida de que, quanto antes nos livrarmos de Bolsonaro, melhor será para o Brasil. O presidente só tem a oferecer ao país ignorância, dor e mortes desnecessárias. O vice-presidente, Hamilton Mourão, embora tenha sido convidado a compor a chapa como uma espécie de seguro contra o impeachment, tem se mostrado uma figura muito mais razoável do que o titular.
Penso que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, deveria deflagrar o processo de deposição sem demora, mas reconheço haver um complicador: não vivemos um período normal; está em curso uma pandemia que cobra todas as atenções do Congresso.
É preciso aprovar medidas não apenas para combater o vírus como também para minorar o sofrimento econômico que o necessário isolamento social impõe à população e a empresas. Não seria nada fácil conciliar esse trabalho, que é inadiável, com os procedimentos necessários para dar seguimento a um impeachment, que são lentos e tendem a consumir todas as energias do Legislativo --e isso sob regime de trabalho remoto.
Também precisamos que o Executivo, que ainda conta com setores razoavelmente funcionais, siga operando durante a crise; se ele passar a atuar em modo de defesa contra o impeachment, ficará ainda menos eficaz.
Ainda assim, acho que é necessário, por uma questão moral, pelo menos iniciar o impeachment, mesmo que o enfrentamento da pandemia nos force a conduzi-lo em banho-maria. A questão central é que, agora que Moro expôs de forma convincente a conduta absolutamente antirrepublicana do presidente, não podemos fingir que não vimos.
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