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Os vírus que atacam o Brasil
Ao despedir-se, ontem, do governo da maneira belicosa como o fez depois de servi-lo sem grande sucesso nos últimos 15 meses e 24 dias, o ex-ministro Sérgio Moro, da Justiça, cravou uma estaca no coração do presidente Jair Bolsonaro.
O melhor dos cenários que o futuro reserva a Bolsonaro é o de terminar seu mandato em 2022 arrastando correntes. Chegaria ao final como uma espécie de zumbi, sem condições de disputar a reeleição para não colher uma derrota.
Impensável até a semana passada, o cenário que parece o mais provável é o de Bolsonaro ser apeado do poder por meio de um processo de impeachment que poderá ser aberto ainda este ano ou no começo do próximo, tão logo permita o coronavírus.
No exato momento em que o presidente fez mais uma fala à Nação para rebater o que disse Moro e repetir mais uma vez que é ele quem manda, pelo menos duas iniciativas do Poder Judiciário mostraram que ele manda cada vez menos.
Augusto Aras, Procurador-Geral da República, pediu ao Supremo Tribunal Federal a abertura de um inquérito para apurar possíveis crimes de responsabilidade cometidos por Bolsonaro – entre eles, falsidade ideológica, prevaricação e obstrução de justiça.
O pedido encontra amparo nas denúncias feitas por Moro. O ex-ministro contou, por exemplo, que Bolsonaro tentou várias vezes interferir em investigações da Polícia Federal em defesa dele mesmo e de políticos que o apoiam ou prometem apoiá-lo.
O relator do pedido de Aras será o ministro Celso de Mello. Seu colega Alexandre de Moraes ordenou à Polícia Federal que os quatro delegados que cuidam de dois processos em curso não sejam removidos dos seus postos nem trocados por outros.
Um dos processos, presidido pelo próprio ministro, tem a ver com a distribuição nas redes sociais de notícias falsas que atingiram a imagem do tribunal e de vários dos seus membros. Bolsonaro teme que o processo complique a vida de alguns dos seus filhos.
O outro processo poderá complicar ainda mais a vida de Bolsonaro. Alexandre de Moraes quer saber quem foi que planejou e financiou manifestações de ruas a favor da volta da ditadura. Bolsonaro participou de uma delas em frente ao QG do Exército.
Não bastasse, na próxima semana a família Bolsonaro amargará outra derrota. O ministro Gilmar Mendes rejeitará o pedido do deputado Eduardo Bolsonaro para que seja encerrada no Congresso a CPI sobre notícias falsas.
Recentemente, o ministro Felix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça, negou um pedido de habeas corpus do senador Flávio Bolsonaro alegando que “há fortes indícios de materialidade e autoria de crimes” atribuídos ao primogênito de Bolsonaro.
Quando Flávio era deputado estadual no Rio de Janeiro, os funcionários lotados em seu gabinete foram obrigados a devolver parte dos seus salários. Batizado de “rachadinha”, o esquema era administrado por Fabrício Queiroz, chefe do gabinete.
Onde está Queiroz? Sumiu outra vez depois de ter sido localizado em São Paulo pela VEJA. À distância, acompanha as aflições da família que o protegeu durante tantos anos e que foi por ele protegida.
O Brasil não é um país para amadores
Para memes certamente é
A dupla Jair Bolsonaro e Sérgio Moro roubou a cena à pandemia que assombra o mundo e avança sobre o Brasil. Pelo menos ontem, quando o país parou para assistir o que um dizia do outro, a doença perdeu o protagonismo para a crise política.
E, no entanto, ela continuou a matar e a ser compartilhada por um número crescente de pessoas. Nas últimas 24 horas, o coronavírus colecionou mais 357 mortos, e 3.503 novos casos foram confirmados. A expansão do vírus aqui é maior do que na Espanha.
No futuro, quando se escrever a história da pandemia, o Brasil será citado como o único país onde em meio a tantas mortes o presidente da República conseguiu livrar-se de dois dos seus principais ministros – o da Saúde, logo o da Saúde, e o da Justiça.
É possível também que registre que foi no curso da pandemia que o governo do presidente Jair Bolsonaro afundou de uma vez. O Brasil não é um país para amadores.
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