Nem tudo são cinzas no claudicante cenário ambiental do país. É boa notícia a coalizão que une, na defesa da preservação da Amazônia, representantes do agronegócio, do setor financeiro e de organizações não governamentais (ONGs), num total de mais de 200 integrantes que, historicamente, nem sempre estiveram do mesmo lado.
Na terça-feira, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura enviou ao governo, à Câmara e ao Senado seis propostas para conter o desmatamento e as queimadas na Amazônia, problemas que têm degradado a imagem do Brasil no exterior, prejudicando negócios, investimentos e acordos comerciais. Oito países europeus mandaram anteontem carta ao vice-presidente, Hamilton Mourão, alertando que o aumento da devastação dificulta a compra de produtos brasileiros.
Nada há de mirabolante nas propostas da coalizão, apenas o óbvio que só o governo Bolsonaro não enxerga. O grupo defende reforço nas ações de fiscalização; suspensão, no Registro do Cadastro Ambiental Rural, de áreas ocupadas irregularmente; transformação de dez milhões de hectares em áreas de proteção e uso sustentável; respeito aos critérios socioambientais nas operações de crédito; transparência nas autorizações para supressão de vegetação; e suspensão dos processos para regularização fundiária onde houve desmatamento após julho de 2008.
Esse raro consenso é ativo valioso num campo marcado por dissensões — e passo importante para solucionar os graves problemas ambientais da Amazônia. Mas o governo precisa se engajar nessa luta. Para isso, tem de abandonar a postura negacionista, um grande desafio. No discurso que fará na Assembleia Geral da ONU, no dia 22, Bolsonaro deverá dizer que as críticas às queimadas no Brasil são equivocadas. Mourão afirmou ontem que “há uma visão distorcida sobre desmatamento ilegal e queimadas na Amazônia”. Um dia antes, acusara o Inpe de divulgar apenas os dados desfavoráveis ao governo. Ambos continuam fugindo aos fatos.
O movimento pela preservação da Amazônia acontece em momento crucial, não só para o Brasil. Os incêndios prolongados que devastam o Pantanal e a Costa Oeste dos Estados Unidos, agravados pelos efeitos inequívocos do aquecimento global — desprezado pelo negacionismo climático de Donald Trump e Bolsonaro — são um alerta para as consequências do descaso com o planeta.
Ao mirar um futuro melhor, a coalizão eclética representa uma saída
otimista, dada pela sociedade e pelo mercado, para preservar a Amazônia, ainda
que à revelia do governo. Executivo e Legislativo precisam ouvi-la, antes que
seja tarde demais.
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