Pode-se
priorizar os mais vulneráveis ou buscar o máximo de proteção coletiva
A
epidemiologia é uma ciência firmemente calcada na matemática, mas que não
trabalha bem com a conceituação binária certo e errado. A razão do paradoxo é
que é grande a interface entre epidemiologia e ética, e esta, apesar dos
esforços de certas correntes filosóficas, resiste à matematização.
O
problema fica escancarado agora, quando países definem os grupos prioritários
para a vacinação contra
a Covid-19. Existem duas lógicas a orientar as decisões. Pode-se tanto dar
primazia aos mais vulneráveis como procurar extrair o máximo de proteção
coletiva de cada dose aplicada. Nada impede a criação de um sistema híbrido,
que combine as duas.
Pelo primeiro critério, ganham dianteira na fila idosos, portadores de doenças que agravam a Covid-19, populações institucionalizadas, indígenas etc. Pelo segundo, a prioridade deve ser dada a indivíduos que, mesmo sem correr grande risco pessoal, desempenham funções essenciais e lidam como muita gente, o que os torna elos importantes na cadeia de transmissão: profissionais de saúde, policiais, certos comerciários, motoristas de coletivos, entregadores etc.
Como
tudo é novo com essa doença, estamos fazendo as escolhas meio no escuro. Se as
vacinas previnem a infecção e não só quadros sintomáticos, teríamos um motivo
adicional para enfatizar a segunda estratégia. Se elas não funcionam tão bem
com idosos, um efeito esperado, a melhor forma de proteger essa população pode
ser imunizando não o indivíduo diretamente, mas as pessoas que se relacionam
com ele.
Para
tornar tudo mais complicado, há o problema dos "free riders", a turma
que quer furar fila. Critérios como idade são relativamente fáceis de
controlar. Já os que dependem de autodeclaração (sou motoboy) podem gerar
confusão.
Aqui
não há certo e errado, mas escolhas diferentes. Só o que é definitivamente
errado é menosprezar a vacinação, como fazem alguns governantes.
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